Aquele jogo em casa do Benfica era especial.
Com efeito, como já fomos escrevendo, o Vitória naquele ano de 1968/69, sob o comando de Jorge Vieira, sonhava com os maiores feitos e aquela partida contra o Benfica revestia-se de determinante para alcançar esse objectivo.
Com efeito, os Conquistadores chegavam a essa nona jornada no segundo posto, a três pontos do líder que era o seu oponente dessa tarde de 17 de Novembro de 1968.
Contudo, para além do jogo, que haveria de comprovar a superior capacidade dos Conquistadores, travando um Benfica que contava por êxitos as últimas quatro dezenas de desafios que disputara na Luz, um facto mereceu especial atenção.
Um facto que o jornal do Vitória chamou de "sortilégio vitoriano" e que haveria de se perpetuar ao longo dos tempos, como já temos demonstrado nesta página. Com efeito, quem sai do Vitória leva-o no coração e jamais o esquecerá. Aliás, o próprio periódico já nessa data reconhecia que "quem alguma vez serviu o Vitória e teve a oportunidade de viver o seu ambiente clubista, que é espelho fiel da vivência vimaranense, feita de lealdade, carinho e simpatia não esquece mais este clube singular."
Assim, a receber a comitiva vitoriana estavam três homens que tinham abandonado o Vitória, mas que jamais o haveriam de esquecer. Desde logo, Pedras e Augusto Silva, que haviam sido transferidos para o clube encarnado no final da época de 1961/62. Este último que, fruto do seu infortúnio de saúde sofrido, de modo abrupto, em Santiago do Chile, deixara de jogar futebol no ano anterior. Pedras, esse, que fora apodado de "Eusébio Branco", depois de não ter-se afirmado nos encarnados, encontrara a redenção no Vitória sadino, a ponto de nesse ano transferir-se para o Sporting, o principal rival do clube anfitrião desse dia. E, por fim, Juca que fora o treinador vitoriano na época anterior, que abandonara Guimarães por problemas pessoais mas fazendo-se sócio do clube
Por isso, concluía-se que "Juca, Pedras e Augusto Silva, honraram-se com as suas atitudes. Mas o Vitória foi também honrado com elas, porque recebeu dessa forma um testemunho mais do que sabe prender, no seu sortilégio, todos aqueles que um dia vivem de forma a sua existência."
Mais uma vez, se comprovava que os Conquistadores eram, como continuam a ser, especiais...
