COMO, PELA PRIMEIRA VEZ, UM TREINADOR DO VITÓRIA ENVEREDOU PELA LITERATURA, PARA EXPLICAR O SEU SUCESSO...

Já foram muitos os treinadores que no Vitória experimentaram dificuldades. Desde as agruras desportivas pelo não cumprimento dos objectivos preconizados, a conflitos com presidentes, a questões económico-financeiras, os desafios serão apanágio de quem representa o clube do Rei.

Rui Vitória, o homem que entrou para a história pela conquista da Taça de Portugal referente à temporada de 2012/13 terá passado, essencialmente, pelo desafio da penúria monetária, ainda que, antes disso, tenha tido uma estranha manifestação de boas-vindas, com uma invasão ao treino para os contestatários lembrarem aos jogadores que tinham de vencer.

Porém, não obstante essas dificuldades, como referimos, haveria de ser o treinador do mais belo feito da história do clube, quando a 26 de Maio de 2013, venceu a Taça de Portugal, com uma equipa feita de jovens provenientes da formação, outros atletas que buscavam afirmação de Rei ao peito e, ainda, alguns velhos caminhantes com muitos quilómetros nas pernas mas que serviam de exemplo aos mais jovens. A comandá-los o homem que aceitou trabalhar com pouco para chegar onde mais ninguém no Vitória houvera conseguido.

Por isso, Vitória saltou para a berra. Todos procuravam saber um pouco mais sobre o treinador que com pouco vencera o multimilionário Benfica de Jorge Jesus, a ponto de ser convidado para escrever um livro.

Um desafio que foi-lhe lançado pelo editor Fernando Gabriel Silva. Como este referiu ao Jornal I de 16 de Junho de 2015, “Uma amiga em comum mete-nos em contacto e encontramo-nos em Lisboa”, “Fomos falando por telefone, sms ou skype, de forma descontraída. De outra forma não poderia ser, porque o Rui é assim mesmo: despretensioso, relaxado, humilde, trabalhador e atento aos pormenores. É também daqueles autores despreocupados com o contrato. A confiança é a base de tudo.” Assim, surgiria a Arte da Guerra Para Treinadores, obra apresentada no Paço dos Duques de Bragança a 13 de Dezembro de 2014, a meio daquela que seria a derradeira temporada do treinador no Vitória.

Como referiu o citado editor, "Foi uma bonita festa no castelo de Guimarães, com toda a equipa. O Rui estava muito feliz com o concretizar de um sonho, embora me questionasse alguma vezes durante o processo ‘olha lá ò Fernando, achas que tenho perfil para escrever um livro?’”

Tinha, sem dúvida. Nele contava os pormenores, mais ou menos escondidos, como conseguiu formar uma verdadeira equipa nos Conquistadores, pontuados por algumas questões pessoais e familiares, sabendo-se que o treinador tinha vivido uma história terrível, com a perda de ambos os progenitores num acidente de viação.

Porém, a parte que todos queriam ler era a referente à conquista da Taça de Portugal. Nesta parte da obra, demonstrava ter-se preparado para tudo aquilo que circundava a partida, atendendo a que escreveu que "Tínhamos uma oportunidade única de fazer história, até porque não sabíamos quando voltaríamos a ter uma ocasião semelhante. Em qualquer jogo, mas sobretudo numa final, é importante preparar com atenção e detalhe todos os pormenores. Por exemplo: as deslocações, o contacto com a imprensa, os adeptos. Pode ser algo tão simples quanto a chegada dos jogadores ao estádio.”

Atentemos no modo de preparação da equipa antes da decisiva partida: "Eu sabia que a claque do Benfica tinha ficado, por sorteio, junto à entrada dos balneários. Por isso, tivemos a preocupação de chegar ao estádio depois do Benfica. Tínhamos tudo controlado (inclusive, o autocarro do Vitória parou, a caminho do estádio, numa estação de serviço, não para “abastecer”, como algumas pessoas acharam, mas apenas para queimar tempo) para chegar ao estádio depois do nosso adversário, esperando que o fogo da recepção se extinguisse. Se tivéssemos chegado antes do Benfica, teríamos encontrado os adeptos encarnados, à espera da sua equipa, provavelmente ao rubro e enfurecidos, o que teria tido um efeito muito negativo nos nossos jogadores. Assim, deixámos o Benfica ir à frente, a sua claque recebeu-os e dispersou. E, quando finalmente chegámos ao estádio, o ambiente estava mais calmo, e assim evitámos que os nossos jogadores sentissem o excesso da pressão dos adeptos adversários. À nossa espera, estavam vários adeptos do Vitória, numa moldura humana bastante mais agradável para nós.”

Mas não seria só isso, uma vez que "No balneário, outra estratégia bem sucedida. “Preparámos um vídeo surpresa para os jogadores com mensagens de ânimo enviadas pelos seus familiares. Montámos um ecrã na cabine, passámos o vídeo, sem eles estarem à espera, minutos antes de entrarem em campo. Os jogadores viram desfilar, uma a seguir à outra, mensagens de apoio e motivação, enviadas com carinho pelos seus filhos, as suas mulheres, os seus pais, os seus amigos. Claro que a emoção que ali se gerou foi poderosíssima. Alguns jogadores ficaram com lágrimas nos olhos, outros apenas excepcionalmente motivados, orgulhosos de terem todos aqueles seres queridos a torcer por si, mas todos, absolutamente todos, tinham sido tocados por aquela onda fantástica de energia. Na verdade, era tanta que se tivéssemos “soltado” os jogadores para o campo naquele momento provavelmente teriam destroçado o adversário, como touros enraivecidos, de forma pouco racional.”

E, desvendando um pouco dos segredos desse dia, Rui Vitória teria uma sala cheia, ávida de conhecer melhor um treinador que fora capaz de levar o Vitória à glória...e isso merecia (mesmo) ser eternizado!

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