"Era bem preciso...finalmente!"
Será este o desabafo mais ouvidos na boca dos vitorianos nas últimas horas.
Com efeito, finalmente, Alioune N'Doye, que poderá já merecer o cognome de "O Desejado" chegou ao Vitória.
Fá-lo, provavelmente sem tempo para ir a jogo na jornada inaugural da Liga Nacional, mas com muito tempo para deixar a sua marca na Liga Nacional, principalmente num Vitória a necessitar de um homem com presença física na área, mas, também, capaz de segurar a bola de costas para a baliza contrária, dando espaço e tempo aos restantes colegas de se aproximarem dele. No fundo, fazer a equipa respirar, espraiar-se no relvado harmoniosamente, deixando de jogar em esticões. E, mais do que isso, permitir ao conjunto vitoriano, que os cruzamentos tenham um efectivo destinatário. Será, pois, mais do que um jogador... será uma peça preponderante no modo de actuar da equipa de Luís Pinto que, com um homem com estas características, sentir-se-á mais confortável em muitos momentos do jogo, algo que, por exemplo, na partida contra o Celta de Vigo não aconteceu.
N'Doye, aos 23 anos, chega ao seu terceiro campeonato europeu. Depois de ter entrado pela porta dos letões do Valmiera, tentou ser feliz nos suíços do Servette. Verdade seja dita, que quer num sítio quer noutro, conseguiu marcar golos, demonstrar os predicados que o fizeram abandonar o Teungueth no seu país, onde começou a dar os primeiros toques na bola.
Refira-se que foram vários os avançados africanos a tentarem ser felizes no Vitória. O primeiro foi Benje, natural de Moçambique, que chegou ao Vitória na época de 1955/56, temporada em que os Conquistadores disputaram a segunda divisão. Benje foi, também, o primeiro jogador de cor negra que actuou com a camisola vitoriana, tendo apontado 32 golos em duas épocas.
Depois deste, só em 1968/69, o Vitória recorreria ao continente africano para reforçar o seu sector ofensivo, num homem que, apesar de ainda hoje ser recordado, não teve uma influência de realce na equipa. Falamos de Bilhó, que mais do que os parcos jogos disputados, deixou na memória um dito que, por vezes, hoje, ainda é ouvido: "Tufa Bilhó"!
Muitos anos se passaram, até os Conquistadores apostarem noutro ponta de lança proveniente do continente africano. Falamos do pé canhão, o inesquecível N'Kama, que chegou no pacote que também compreendia N'Dinga e Basaúla. Em duas temporadas apontou 14 golos, tendo sido decisivo na obtenção do terceiro posto de 1986/87, quando abalroou as redes contrárias por onze vezes.
A época de 1988/89 trouxe um ponta de lança dos Camarões, que sonhava estar no Campeonato Mundial de 1990, em Itália. Contudo, Ernest Ebongué, apesar dos créditos que trazia consigo, só actuou por 13 vezes de Rei ao peito, nunca tendo sido capaz de marcar qualquer golo de Rei ao peito, sendo dispensado para o Varzim na temporada seguinte.
A época de 1990/91 trouxe, provavelmente, o melhor ponta de lança proveniente do continente africano a chegar ao Vitória e um dos melhores da história do clube. Falamos de Ziad, que em quatro temporadas e meia no Vitória, apontou 47 tentos. Aliás, chegou mesmo a ser o terceiro melhor marcador da liga de 1991/92 com 15 tentos.
Só em 1999/2000, o Vitória passaria a contar com outro ponta de lança africano. Contratado ao Beneditense, o jovem são tome-se Jairson foi aposta durante grande parte dessa época. Marcou 3 golos para ser vítima da remodelação levada a cabo por Paulo Autuori que não surtiu os efeitos desejados.
Passaram 6 anos e o Vitória viveu o atribulado ano conducente à sua despromoção. Na frente de ataque, começou a temporada o moçambicano Dário que, apenas, apontou dois golos de Rei ao peito, ainda que um deles, foi inesquecível: o que eliminou o Benfica nos quartos de final da Taça de Portugal. Em Janeiro chegaria Antchouet, natural do Gabão, e com a missão de ajudar a resgatar a equipa dos últimos lugares. Não teria êxito, só tendo apontado três golos e ficando na história por uma discussão acesa com um adepto no hotel onde a equipa estagiava.
O ano na Segunda Liga trouxe consigo a aposta num ponta de lança guineense. Filho do antigo jogador vitoriano Bobó, Bacari nunca se conseguiu afirmar nos Conquistadores. Actuou, em apenas, dez partidas, tendo apontado um único golo na derrota por cinco a três frente ao Rio Ave.
Seguiu-se, depois, um dos maiores flops da história vitoriana. A meio da época de 2008/09, a direcção de Emílio Macedo da Silva, preocupada com o desenrolar da temporada, resolveu apostar forte. Contratou ao Petro de Luanda, por bom dinheiro, o melhor marcador do campeonato angolano desse ano, o Girabola, Santana Carlos. Faria 8 partidas até ao final desse exercício e mais uma na época seguinte, sem nunca fazer balançar as redes. Acabaria por regressar a casa sem honra nem glória.
Chegamos à época de 2011/12 e à contratação de um homem que, ainda, hoje está na memória dos vitorianos. Depois de ter falhado a contratação do camaronês N'Djeng, em boa hora o Vitória apostou no argelino Soudani. Além das extraordinárias qualidades humanas, que o fizeram em pouco tempo tornar-se num vimaranense, haveria de ficar na historia ao apontar um dos golos na Taça de Portugalque o Vitória conquistou. Em duas temporadas apontou 18 tentos e ganhou o direito a entrar, para-a sempre na história do clube.
A coexistir com Soudani, estava um homem que, apesar de ter actuado pelos sub-20 portugueses, era guineense, tendo chegado a actuar pela selecção do país onde nascera. Falamos do "gigante com cara de menino", Amido Baldé, que foi, igualmente, determinante na conquista da Taça de Portugal, tendo rendido uma quantia interessante ao Vitória quando foi vendido ao Celtic de Glasgow.
Seguiu-se o nigerino Maazou na época de 2013/14 com seis golos e o cabo-verdiano Ricardo Gomes nas duas subsequentes, onde marcou dois golos.
A época de 2016/17 trouxe o empréstimo por parte do FC Porto do Mariano Moussa Marega, trazendo a seguinte a de um investimento na esteira do de Santana Carlos. Falamos do marfinense Junior Tallo que, para além de só ter apontado dois tentos de Rei ao peito num jogo da Taça de Portugal, ainda viveu momentos polémicos como quando fez um gesto obsceno para a bancada, ou alegou que o Vitória não lhe tinha pago o que lhe era devido.
O ano de 2018/19 trouxe a estreia do ganês Aziz. Uma grande promessa que brilhara a grande altura na equipa B e que Luís Castro fez estrear na partida contra a B SAD, já o campeonato se aproximava do seu final. Lesionar-se-ia gravemente aos 38 minutos da partida, para não mais actuar no Vitória.
No exercício de 2020/21, fruto da revolução empreendida no plantel, foi contratado o sul-africano Lyle Forster ao Mónaco. Apesar da aposta que constituiu, até pelos valores aplicados, o jovem jogador só jogou por sete vezes no Vitória. Seria vendido para a Bélgica onde explodiu para rumar ao futebol inglês.
N'Doye é, pois, o décimo oitavo avançado africano a chegar ao Vitória. Num curioso contraponto, esperemos que se situe do lado da história onde se encontram Benje, Ziad ou Soudani... seria bom sinal e motivo de felicidade para todos nós!