Estávamos no início da temporada de 1990/91.
Pimenta Machado encontrava-se solidificado na liderança do Vitória, gozando os louros de mais uma bela temporada desportiva que findara com a obtenção de um quarto posto, mas com a confessada "maior desilusão da sua vida desportiva", com a eliminação da Taça de Portugal, em casa, nas meias finais da prova, frente ao Estrela da Amadora... com Basaúla, um jogador emprestado pelo Vitória a ser decisivo para dar o triunfo ao conjunto estrelista.
Por isso, era imperioso reforçar a equipa para ir mais além. Num tempo em que as SAD nem sequer entravam no léxico do desporto, urgia recorrer a outros fontes de financiamento, como o Povo de Guimarães datado de 15 de Junho de 1990 dava a conhecer. Com efeito, apesar do título dizer que "Ainda não há novidades", o corpo do texto deixava os vitorianos com esperanças no que a reforços se referia.
Tal devia-se ao facto de "O Presidente Pimenta Machado tem vindo a reunir-se com o grupo de apoio financeiro, liderado por Narciso Pereira Mendes, a fim de conhecer os apoios com que o Vitória pode contar para concretizar negociações em curso no Mercado Internacional de elevados investimentos financeiros." Refira-se que este era um empresário de Polvoreira, dono da sociedade Fateba, que se dedicava à produção têxtil, sendo especialista na produção de atoalhados de mesa, panos de cozinha, pegas, luvas e aventais.
Os objectivos, esses eram claros. Com efeito, depois de terem-se malogrado as negociações com um ponta de lança checoslovaco, por este ter-se comprometido com um clube francês que fora promovido ao principal escalão nesse ano, por dois milhões de euros, os Conquistadores precisavam de apoios externos, de quem nunca dizia que não ao clube para alcançarem outros alvos. Além disso, pretendia-se adquirir um guardião, pelo que "o Vitória está a procurar garantir o apoio financeiro do referido grupo de dez apoiantes", ficando a promessa que se o mesmo se efectivasse essas contratações iriam ser uma realidade. Não existindo, teria o Vitória de contentar-se em reforços do mercado nacional.
Seria, pelo sucesso dessas negociações que o número seguinte do Povo de Guimarães, já noticiava "a contratação de um ponta de lança da selecção da Tunísia que deverá estar já confirmada quando o nosso jornal sair para a rua". Era Ziad, que inicialmente era chamado de Tlemaçani nos jornais e que haveria de ficar na história dos Conquistadores como um dos seus melhores goleadores. Quanto ao guarda-redes, acabaria por surgir uma surpresa em tons de regresso. Tratava-se do icónico Jesus que ia "preencher o lugar de guarda-redes que o Vitória procurava no estrangeiro, libertando uma vaga de jogador não nacional."
Relativamente ao ponta de lança merecerá destaque a sua descrição no jornal citado: "alto, mais de 1,80m, seco de carnes, Tlemaçani é considerado por todos os que o observaram o ponta de lança que o Vitória não possuía desde o tempo de Paulinho Cascavel."
Esta vaga acabaria por ser ocupada pelo camaronês M'Bouh que dera nas vistas no Mundial de 90, onde a sua selecção dos Camarões foi a grande sensação. Era pois, uma equipa, como o Povo de Guimarães, a apodou, numa expressão extremamente feliz "de samba africano."
Era um Vitória que se construía cheio de esperanças, mas que infelizmente redundariam num ano cheio de desilusões... mas isso será outra história!