COMO IVO SE DESPEDIU DE GUIMARÃES, ABRILHANTADO EM MAIS UM LAMPEJO DE UM GENIAL INGLÊS...

A temporada de 2019/20 foi sui-generis por culpa da pandemia covid-19.

Na verdade, à longa interrupção do campeonato nacional durante três meses seguiu-se a prossecução da prova perante bancadas desertas, num espectáculo desolador, mas necessário para os clubes conseguirem receber os valores acordados no que tangia aos direitos televisivos.

Seria deste modo que o Vitória perderia terreno para as equipas que lutavam com ele pelo apuramento europeu, o Rio Ave e o Famalicão. Aliás, verdade seja dita, sabia muito a pouco para a equipa treinada por Ivo Vieira, que sempre se preocupara em aliar os triunfos a uma qualidade estética inatacável. Com efeito, durante muito tempo, o futebol dos Conquistadores foi elogiado em todos os quadrantes, ainda que, muitas vezes, os pontos ficassem a desejar.

Seria, por isso tudo, que aquele último jogo em casa frente ao Marítimo tinha um sabor amargo. Com efeito, ainda a faltar essa partida e a derradeira perante o Santa Clara, o Vitória já sabia que o objectivo europeu se houvera malogrado, muito por culpa própria e, também, pela equipa levar à letra o velho ditado de "o óptimo ser inimigo do bom." Com efeito, quantas vezes, o Vitória foi incapaz de "colocar gelo" no jogo, geri-lo, ao invés de continuar a actuar como não estivesse em vantagem?

Por isso, naquele dia 19 de Julho de 2020, o onze composto por Douglas; Sacko, Suliman, Frederico Venâncio, Florent; Mikel Agu, André André, Poha; Ola John, Bruno Duarte e Marcus Edwards entrava em campo a saber que aquilo que fizesse nessa partida seria insuficiente para os objectivos traçados. A qualificação europeia já nem miragem era.

A piorar o cenário, o caso do guarda-redes Jhonatan. O guardião brasileiro, contratado ao Moreirense a meio da época anterior, com contornos de polémica com o emblema cónego, chegara lesionado a Guimarães. Demoraria a temporada a recuperar e aquela seria a noite que iria ser lançado como guardião dos Conquistadores, 16 meses após a última vez que entrara em campo. No aquecimento, como conta o portal Zerozero, a "coxa direita do brasileiro, no entanto, acabou por ceder no aquecimento para a partida e, numa alteração de última hora, o habitual dono da baliza Douglas foi chamada ao serviço, ainda antes do apito inicial do duelo."

(Mais) um momento infeliz para o brasileiro que nunca haveria de se estrear na equipa principal vitoriana, num dia já dele que pouco contava para as contas finais. A tornar, contudo, a partida inesquecível, o momento do único golo da partida. Mais um momento sublime do "príncipe inglês", como lhe chamou o site já mencionado. Marcus Edwards apontaria mais um golo de belíssimo recorte, digno de um predestinado e que merecia, caso o estádio estivesse com as bancadas com público, que este se levantasse para lhe tirar o chapéu.

Não estava, mas ainda assim seria um momento de extraordinário recorte e que haveria de garantir o último triunfo de Ivo Vieira ao serviço dos Conquistadores. Ele, que, ao contrário do que fizera durante toda a temporada, a faltar pouco mais de dez minutos do final da partida, tiraria do jogo André André para colocar o central Pedro Henrique, colocando, quando já para nada contava, a equipa a jogar com três defesas centrais para segurar o resultado. Além disso, ainda faria a última substituição possível no período de compensação para "queimar tempo", ele que não o fizera, por exemplo, no primeiro jogo no D. Afonso Henriques, quando ao extraordinário golo de Davidson, o Boavista fora capaz de igualar no último lance.

Depois do triunfo, no flash interview, o treinador anunciaria o que era óbvio para quase todos. Não haveria de continuar no Vitória. Com efeito, "Foi o meu último jogo aqui, onde aprendi muito e cresci muito com a massa critica, no bom sentido. Independentemente da crítica que, a espaços possa acontecer, foi uma aprendizagem gigantesca que levo para a vida. Cresci muito como homem e como treinador." Não obstante isso, admitia que "Sempre tive esperança e a minha intenção era ficar muitos anos no Vitória. Temos de respeitar a decisão e a visão das pessoas, daquilo que querem para o clube."

Ivo partiria, mas levava na mente, o último momento genial de um jogador que ajudou a potenciar e a tornar maior: Marcus Edwards que, quase arriscamos, nunca terá sido tão feliz com outro treinador a orientá-lo!

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