Quem os via jogar, pareciam gémeos siameses...
Rápidos, de boa leitura de jogo e com caras de miúdo na perfeita antítese do que se diz deverem ser os defesas centrais: feios, disponíveis a bater em tudo o que mexa e com um soerguer de olhos atemorizar o mais temível dos pontas de lança.
Contudo, a parceria entre Geromel e Sereno, naquela temporada de 2007/08, era tudo menos isso. Os dois jovens eram a antecipação, a souplesse, o modo refinado com que tocavam a bola, sendo os primeiros construtores de jogo do belo Vitória gizado por Manuel Cajuda e que chegou à Liga dos Campeões.
Porém, para a história ser mais bela poderemos dizer que tratou-se de um casamento que não foi fruto de amor à primeira vista. Ambos chegados ao Vitória na fatídica época de 2005/06, o brasileiro do Chaves e o português do Elvas, separar-se-iam de imediato, com o primeiro a ficar no plantel e o segundo a ser cedido a título de empréstimo ao Famalicão.
Nem mesmo na época seguinte, com o Vitória a ter de disputar as agruras da Segunda Liga juntar-se-iam. Com Danilo e Franco no plantel, Geromel começou a titular para perder o lugar para os citados, na certeza que nas divisões inferiores mais do que a classe importa a contundência, mais do que a leitura de jogo será relevante morder as canelas dos adversários... Sereno, esse, era a opção para a lateral, desempenhando uma função híbrida: ora fechando ao centro, ora apoiando o extremo que aparecia à sua frente.
Até que chegamos à terceira jornada da temporada subsequente... na Luz, frente ao Benfica, o central Danilo lesionou-se gravemente. O diagnóstico seria aterrador, garantindo que perderia o remanescente da época. Com, apenas, Sereno como defesa central no banco, o técnico algarvio não hesitaria, lançando-o.
Daria tão boa conta de si e tão assinalável entendimento com Geromel que não mais sairia da equipa, ajudando ao extraordinário desempenho dos Conquistadores que haveriam de terminar o exercício num extraordinário terceiro lugar. No final da temporada, os dois jovens ocupavam as manchetes dos jornais com inúmeros interessados na contratação de ambos. Por isso, ao Mais Futebol de 30 de Maio de 2008, o, então, presidente do clube, Emílio Macedo da Silva garantia que "o Vitória tem de vender sempre um ou dois activos, é inevitável. É evidente que não fechamos a porta a grandes negócios, mas só os anunciamos quando estiverem concretizados."
Não se enganaria...na totalidade. Deste modo, Geromel seria vendido para a Alemanha, para o FC Koln, por 4,5 milhões de euros. Sereno, esse permaneceria, para viver uma via-sacra com uma operação aos dois joelhos que que lhe arruinou a temporada subsequente e grande parte da seguinte. Recuperado, seria vendido ao Valladolid por 300 mil euros.
Porém, no espírito dos vitorianos jamais deixará de estar presente aquela dupla de "meninos" com ar de bem comportados, quase saídos da aula dominical da catequese, mas que limpavam tudo à sua volta...com classe inelutável!