COMO TENTAMOS EXPLICAR EM VÁRIOS PONTOS AS RAZÕES DE UM DESCALABRO QUE JAMAIS QUEREREMOS QUE SE REPITA...

A temporada de 2005/06 foi das mais dolorosas da história do Vitória.

Na verdade, ninguém esperava que 51 anos depois, os Conquistadores voltassem a cair nos escalões secundários, ainda para mais numa temporada em que regressavam às Competições europeias, seis anos após a última presença.

Porém, foram muitos os factos que contribuíram para tamanho malogro, uma profunda decepção que abriu uma ferida difícil de cicatrizar e que foi observada a olho nu durante a primeira volta do campeonato da Liga 2.

Não seremos exaustivos em analisá-los, mas, até para memória futura, será importante deixar aqui o contribuiu para uma das maiores desilusões dos últimos 50 anos vitorianos.

Deste modo:

I - Uma direcção em dificuldades - Vítor Magalhães foi o homem providência, depois da partida de Pimenta Machado. Com uma legitimidade dos votos na ordem dos 90%, tinha carta branca para levar o clube em frente. Porém, aos poucos, foram-se abrindo brechas no seu grupo. Homens como António Miguel Cardoso, o actual presidente, ou Emílio Macedo da Silva, o presidente que o sucederia, abandonaram os órgãos, desalinhados com quem mandava, criando fissuras que fragilizarem a estrutura.

II - Falta de poder - Pimenta Machado, quer se gostasse do estilo ou não, era um dinossauro do futebol. Como o povo diz, "sabia como as coisas se faziam." Sabia encostar-se ao poder para ter o que pretendia e só entrava em confronto com ele quando podia fazer-lhe mossa. A mudança directiva, pese embora Vítor Magalhães ter a experiência do Moreirense, trouxe uma clara debilitação da força vitoriana nas instâncias decisórias... onde infelizmente se joga muito das decisões do futebol português.

III - Um plantel escolhido sem dedo do treinador - Jaime Pacheco foi o escolhido para treinador. Um D. Sebastião, cuja contratação a maioria dos socios assinaria de olhos fechados. Mas terá tido Pacheco voz activa na constituição do plantel? A sua frase, após ter abandonado o clube, é demonstrativa da parca participação que teve na escolha do plantel quando disse que tinham-lhe dado um avião sem asas... ora, não há nenhum piloto que escolha um modelo que não lhe permita voar.

IV - A perda das referências de outras temporadas - O Vitória, no ano de 2005/06, reformulou-se profundamente. Nessa reformulação perdeu jogadores determinantes e líderes de balneário. Falamos de nomes como Palatsi, Bessa, Djurdjevic e Romeu que faziam parte do núcleo duro da equipa e que a abandonaram. Se a estes, juntarmos o nome de Alex, que apesar de estar emprestado pelo Benfica, era nado e criado no Vitória, perceberemos a crise de identificação que aquele balneário sentiu.

V - Dificuldades na formação de um grupo - Naquela famigerada época chegaram jogadores de todas as latitudes. Desde jovens mais ou menos inexperientes e mais ou menos talentosos (Paiva, Mário Sérgio, Sereno, Geromel e Pintassilgo), a outros com algum cartel (Neca e Paulo Sérgio) ao Brasil (Nilson), à Dinamarca (Svard), ao Gana (Tiero), à Tunísia (Benachour), à Argentina (Rivas), à Polónia (Saganowski), o conjunto vitoriano foi a esperança que a soma das partes heterogéneas formam um todo homogéneo. Mas, como o futebol real jamais será igual às partidas de simulação futebolística não funcionou...

VI - Caso Tiero - Era a grande esperança dessa temporada. Um médio ganês que era comparado ao inesquecível N'Dinga. Jogou no primeiro desafio da pré-temporada em Felgueiras, frente à equipa local. Lesionou-se e não mais apareceu, levando a que a sua transferência acabasse a ser discutida na FIFA. Deixou um buraco no meio-campo para aparecer na temporada seguinte na Naval 1º de Maio.

VII - Péssimo arranque de campeonato - Com uma equipa nova, com um treinador novo, o pior que poderá acontecer é a equipa começar mal. No fundo, a confirmação do ditado de que "pau que nasce torto, tarde ou nunca se endireita." Assim, nesse exercício, o Vitória só marcou pontos à quinta jornada, depois de já ter perdido quatro partidas consecutivas, duas delas em casa frente à estreante no principal escalão, Naval 1º de Maio... e o derby do Minho, algo que não acontecia há 23 anos.

VIII - Ilusão europeia - O Vitória foi a primeira equipa portuguesa a entrar na fase de grupos da Liga Europa, graças a um dos raros momentos de felicidade desse ano, quando eliminou os polacos de Wisla. Um êxito, provavelmente, com efeitos contraproducentes...

IX - Péssima escolha do sucessor de Pacheco - O treinador Jaime Pacheco rapidamente se viu que tinha dificuldades em montar um onze. Um plantel desequilibrado, construído sem critério e que rapidamente ficou à deriva era prenúncio de desgraça. Assim, após a derrota em casa, com toque a escândalo, por três bolas a zero frente à União de Leiria partiu.

Para seu substituto, a escolha ainda foi mais errada! Na verdade, quando se pretendia alguém que colasse cacos, que fosse capaz de juntar as peças de um disforme puzzle, a aposta recaiu num treinador incapaz de levar o barco a bom porto. Vítor Pontes era jovem, inexperiente, sem pulso para balneários complicados, de muitos egos e nunca havia treinado um clube de, pelo menos, dimensão aproximada do Vitória. Correu mal, com o barco vitoriano a assemelhar-se ao Titanic... enquanto ao fundo, a banda tocava alegremente, sem nada fazer para evitar tal desastre.

X - Uma pré-época em competição - Em Janeiro, no auge do desespero, chegaram seis jogadores para todas as partes do terreno. Se a ideia de grupo já era uma falácia, se já existiam jogadores a actuar para si, como encaixar mais seis atletas sem ter quase ter tempo de conseguirem pronunciar o nome dos colegas? Ora, independentemente do seu valor, tal não funcionará em lado algum e o Vitória não foi excepção.

XI - Paco Gallardo - O caso Gallardo terá sido um dos maiores sinónimos do desconcerto vitoriano naquele ano. Contratado por empréstimo ao Sevilha em Janeir e tido o como grande esperança para desequilibrar a partir da ala direita, jogou três partidas entre 11 e 21 de Janeiro de 2006. Do nada, anunciaria a intenção de regressar a Espanha...pelo facto da mulher não querer viver numa cidade pequena e com poucas lojas como Guimarães!

XII - A falta de sorte - Para juntar a uma temporada absolutamente infeliz, o Vitória viveu o trauma do último minuto. Na verdade, os golos sofridos no último minuto em Barcelos e em Paços de Ferreira, custaram mais do que quatro pontos... custaram o parco estofo psicológico de uma equipa absolutamente descrente nas suas possibilidades e incapaz de ter uma voz de comando que a fizesse dar a volta ao texto.

Aliás, o que sucedeu na Capital do Móvel merecia um filme...candidato ao Óscar.

Atentemos:

- Aos 62 minutos, entra em campo o avançado Antchouet;

- Aos 89 minutos, marca o golo que se pensava ser o do triunfo;

- Aos 90 minutos, para "fechar a porta", Vítor Pontes coloca mais um defesa central em campo, o húngaro Attila Dragóner.

- Aos 90+1 minutos, o jogador recém-entrado ao tentar aliviar uma bola de cabeça, viu o esférico bater-lha na parte superior daquela, ganhar um estranho efeito e enganar Nilson.

Nem num filme de terror!

XIII - Por mais que corrêssemos, os outros corriam mais - Perdoem-nos a metáfora, mas o que dizer de uma equipa, que apesar de tudo, somou, apenas, uma derrota em doze partidas e foi incapaz de fugir do abismo? Foram quatro triunfos, sete empates e, apenas, uma derrota em Braga e nem assim o Vitória foi capaz de respirar em terra firme.

XIV - Setúbal - Terá sido a facada decisiva naquela temporada. Aquela meia-final da Taça poderia ser sinónima de um apuramento europeu via a prova rainha do futebol português. Mais do que isso, poderia ser o dínamo determinante para o conjunto Conquistador ganhar confiança em si para cavalgar lugares na tabela classificativa. Depois de 90 minutos enfadonhos, Saganowski adiantou o Vitória no prolongamento. Quando já se fazia a festa, no último minuto da partida (novamente!), o antigo jogador vitoriano Auri (um must-see vitoriano sofrer golos de antigos jogadores) igualou a contenda, levando-a para o desempate por pontapés de grande penalidade. Como sucede na maior parte desta situações, o Vitória não foi feliz e terá sido aí que a época descambou completamente!

XV - Instabilidade - A partir desse momento foi o descalabro.Derrotas atrás de derrotas, jogadores a discutirem com adeptos, a serem incomodados, a receberem "visitas, num cenário de filme "noire" que se augurava que não pudesse trazer nada de bom...como não trouxe! Aliás, quando já se antevia o infeliz desenlace, no último triunfo da época perante o débil Penafiel, uma das estrelas da companhia, Benachour, após marcar um golo, mandou calar todo o estádio... ao invés de o calar, incendiou-o num claro sinal de desequilíbrio de todos que pressentiam o que ia suceder e nada conseguiam fazer para o evitar.

XVI - As arbitragens - Quando uma época não corre bem, é tradicional olhar-se para estas. Mas, a verdade é que, nesse ano, o Vitória, na hora da verdade, teve as decisões dos homens do apito sempre contra si. Sucedeu em Braga, no Dragão, em Barcelos, em jogos em que se as coisas estavam mal ainda ficaram pior!

XVII - Incapacidade - O que dizer de uma equipa que chegou à última jornada frente ao Estrela da Amadora a não depender só de si, mas a precisar de vencer, e não ter sido sequer capaz de criar uma oportunidade de golo para vencer? Acabaria por perder, confirmando um ano em que nada correu bem desde o seu início...por culpa de todos os seus intervenientes!

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