Virgílio Freitas foi dos primeiros grandes jogadores vitorianos. Sapateiro de profissão, viveu os tempos diletantísticos do futebol, sendo uma das figuras de proa dos primórdios vitorianos, ajudando, por isso, a conquistar os seus primeiros títulos distritais.
Além disso, depois de pendurar as botas, ainda continuaria ligado ao Vitória como treinador das camadas jovens, mas mais do que isso deixaria nos genes do filho António, o amor pelo desporto, pelo futebol e, acima de tudo, pelo Vitória.
Falemos, agora, deste. Estreando-se com 22 anos na temporada do regresso dos Conquistadores à Primeira Divisão, em 1958/59, numa partida que a equipa vitoriana perdeu por três bolas a uma na Covilhã, seria na temporada de 1961/62 que teve mais utilização, ao entrar em campo por 27 vezes. O defesa direito assumia a sua relevância num conjunto que viveu em constante turbulência, com mudanças de treinador, com uma direcção demissionária...e a fazer parte de uma equipa que salvou-se, miraculosamente, na última jornada, ao triunfar frente ao FC Porto.
Com a subsequente renovação do conjunto, Freitas continuaria a fazer parte do plantel sem ser revelar decisivo chegando ao ponto de ser cedido ao Famalicão na época de 1964/65.
Haveria de voltar a Guimarães no seguinte exercício... para ter o seu destino traçado às mãos do treinador francês Jean Luciano. Com efeito, naquele Vitória que a todos entusiasmava, sentia dificuldades em encontrar lugar. Contudo, aquela partida com o Belenenses, disputada a 23 de Janeiro de 1966, haveria de abrir-lhe uma esperança, pois o habitual titular da lateral esquerda, Daniel, estava castigado e, por isso, foi testado durante toda a semana como o seu substituto na equipa titular. Apesar disso, para sua desilusão, no dia do jogo, o treinador optaria por dar a titularidade a Mário Vieira, não utilizando Freitas.
Se esta situação já parecia nefasta, o pior sucederia, contudo, na viagem de regresso. Enquanto esperava pelo comboio que haveria de trazer a equipa de regresso a Guimarães, começaria a beber uns bagaços no bar da estação. Como consequência, lá libertado pelos vapores etílicos, ganharia coragem de dizer o que lhe ia na alma, dizendo de tudo ao treinador que não apostara nele. Seria a sua sentença no Vitória, arruinando o seu futuro no clube.
Não seria mau de todo...rumando à Sanjoanense no final dessa temporada, e beneficiando do facto de trabalhar na sociedade Damião & Peres, conseguiria garantir proveitosos negócios e singrar nessa área... era um sinal da fortuna que o acompanhou em determinados momentos da sua vida e que merecerá uma história à parte.
Faleceria em 2020, quase no anonimato, por opção própria, mas com a certeza de ter deixado os genes vitorianos nos seus filhos e netos que continuam apaixonados pelo Vitória.