Estávamos em Julho de 1959.
O Vitória cumprira com indesmentível êxito a temporada do regresso à Primeira Divisão, após três anos de dificuldades no segundo escalão do futebol português.
Fruto do prestígio granjeado nessa temporada, a equipa seria convidada, no final da temporada, para levar o nome do clube a terras ultramarinas, tal como a legenda da fotografia que ilustra as presentes linhas e apresentada no jornal Notícias de Guimarães de 19 de Julho de 1959 demonstra: "José Silveira, capitão do Vitória, entrega ao capitão da equipa do F.C. Luanda, um galhardete comemorativo da visita do seu grupo ao Ultramar Português."
Um momento histórico, principalmente para o capitão Silveira, que, apesar de ser açoriano, era a primeira vez que viajava de avião. Um facto estranho para o escriba, atendendo ao facto de o Vitória ser uma equipa da Primeira Divisão, mas que fascinara o jogador "de bigode à brasileira" que, depois de colocar os pés em terra firme, sentenciou que "não quero viajar de outra maneira. Se andar de avião é sempre assim..."
Mas, se o capitão de equipa estava entusiasmado da forma como decorrera a deslocação, o treinador Buchelli mostrava-se animado com esta. Na verdade, ainda que "sobre a nossa equipa não lhe posso dizer grande coisa, pois tomei posse do meu cargo de treinador há poucos dias." Ainda assim, confessava sentir que "tenho sob a minha direcção um grupo de bons futebolistas, que procuraram praticar futebol agradável."
Como grande atractivo da viagem, estavam as estrelas da companhia; ou seja, os quatro brasileiros que militavam no Vitória. Sobre o recém-chegado Caiçara, o técnico diria que "não tive ainda ocasião de avaliar das suas possibilidades, mas pela pinta e por aquilo que já lhe vi mexer na bola julgo estar ali um jogador a sério. Veremos, depois, se confirmou a minha impressão...", o que, felizmente, sucederia, tornando-se Caiçara num dos grandes jogadores daquela década vitoriana.
Quanto à tríade canarinha da ofensiva (Edmur, Carlos Alberto e Ernesto), para além do reconhecido talento futebolístico, juntariam outro sentimento que a todos os vimaranenses poderia orgulhar: "Guimarães é uma terra onde nos sentimos bem, pelo seu bairrismo e pelo carinho com que trata os seus jogadores." Acrescentava o jornalista, em serviço especial para o Notícias de Guimarães que havia sido informado que "são um caso sério a mexer na bola."
Por fim, merecerão citação as palavras do Engenheiro Costa Guimarães, chefe da comitiva, que garantia que "venho encantado com a viagem e creia que é com a maior satisfação que piso uma terra do Ultramar. Os rapazes estão com excelente disposição, não havendo ninguém que se tenha dado mal na tirada de Lisboa a Luanda."
Depois desse contacto, o jornalista despedir-se-ia da comitiva "com um amigável até à vista e com a certeza de que estivemos a falar com um grupo de desportistas que vai ser merecedor de toda a simpatia..."
Assim seria, com os Conquistadores a honrarem o nome do clube pela sua qualidade, pela sua simpatia e pelos seus triunfos... mas isso será outra história.