Na altura em que o Vitória apresta-se para disputar um importante desafio frente ao emblema açoriano do Santa Clara, importará lembrar Silveira, açoriano de nascimento, e, provavelmente, o mais lendário capitão do clube.
José Silveira, foi contratado ao Sporting da Horta, durante a temporada de 1952/53, já com 26 anos. Contudo, haveria de escrever uma bela história de Rei ao peito, ao actuar durante doze temporadas no clube vitoriano.
Seria protagonista em diversos actos da história vitoriana, como a descida de divisão e concomitante regresso três anos depois.
Aliás, a sua relevância nas diversas equipa vitorianas, faria com que fosse chamado à selecção nacional em 1959, para um jogo em Paris, frente à França, numa altura em que ainda era mais difícil do que é hoje ser convocado a actuar num clube que não os três mais fortes. Contudo, não seria utilizado fruto de uma arreliadora lesão contraída na véspera da partida, que o impediu de entrar na história, como sendo o primeiro jogador do Vitória a vestir a camisola das Quinas.
Terá tido outro grande lamento na sua carreira. Estávamos na temporada de 1962/63 e o Vitória já era considerado uma das forças emergentes do futebol português. A comprová-lo a excelente campanha na Taça de Portugal desse ano que fez a equipa chegar às meias finais da prova frente ao Belenenses. Depois de nas duas mãos da eliminatória, as equipas estarem igualadas foi necessário um jogo de desempate em Coimbra. Silveira lesionar-se-ia gravemente durante o jogo, que o Vitória começou por estar a perder por uma bola a zero. De modo a querer dar o exemplo aos seus companheiros, não saiu de campo, ajudando conforme a sua disponibilidade física. Quem sabe se não terá sido o seu exemplo que terá permitido ao Vitória nos cinco mais belos minutos da sua história, apontar três golos e carimbar a primeira viagem rumo ao Estádio Nacional para defrontar o Sporting, na final da Taça de Portugal. Sem o capitão e desgastada fisicamente pelo esforço despendido, os valorosos atletas vitorianos haveriam de ser derrotados por quatro bolas sem resposta.
Quanto a Silveira haveria de abandonar o Vitória no final da temporada seguinte, deixando a memória de um homem que dava tudo pelo símbolo que trazia ao peito. A confirmar isso, bastará deixar este trecho do Comércio de Guimarães, aquando do encontro frente ao Benfica, disputado na Amorosa, na temporada de 1958/59 e demonstrativo da fibra do jogador: "O jogador, dotado do verdadeiro espírito Conquistador, estivera doente na semana antes do jogo. Porém, no dia da partida, “quando estivemos nas cabinas, antes do jogo, conversamos ligeiramente com Silveira. Confessamos ter ficado aterrados (não há exagero no termo) com o aspecto do excelente defesa. A sua palidez e abatimento físico impressionavam e testemunhavam gritantemente a doença que o tinha apoquentado. “Eu vou jogar, mas sinto-me bastante fraco”, disse-nos então Silveira. Aquela impressão ficou-nos no espírito. Por isso, assistimos ao jogo sempre acompanhados do receio de ver Silveira ceder, quase com a certeza que isso aconteceria. Afinal, a preocupação era infundada. A força moral de Silveira, a sua abnegação, fizeram o milagre de vencer a debilidade física do momento. E não se contentando com esse triunfo, ele conseguiu ser o melhor elemento sobre o terreno. Bravo Silveira! Bravo!” Foi de homens desta estirpe que se fez o Vitória!"
A última frase deste extracto merecerá ser a conclusão destas linhas: foi de homens como Silveira que o Vitória chegou onde chegou e que tanto nos orgulha!
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