COMO GUIMARÃES E O VITÓRIA SE PREPARARAM PARA O JOGO MAIS IMPORTANTE DAQUELES TRÊS ANOS DE PURGATÓRIO, PARA NO FINAL VIVER "A FESTA POR QUE TANTO LUTARA E ANSIARA"

O Vitória caíra na Segunda Divisão em 1955.

Nas duas temporadas subsequentes, tentara o regresso ao primeiro escalão, morrendo sempre na praia, como se costuma dizer na gíria.

Porém, naquela de 1957/58 tudo parecia encaminhar-se para um final feliz. Na verdade, depois de ter-se qualificado no segundo posto na fase de promoção, o que o obrigou a realizar os denominados jogos de permanência frente ao Salgueiros, a primeira mão, disputada em Vidal Pinheiro, correra da melhor maneira possível. Os Conquistadores venceram por duas bolas a uma, com golos de Rola, e o regresso estava ali... à mão de semear.

Porém, nada ainda estava conseguido, o que fazia com que, como o jornal A Bola de 02 de Junho de 1958 relatou, "Guimarães viveu ontem um dia de festa, por motivo da realização do desafio com o Salgueiros..."

Na verdade, logo a seguir ao almoço, segundo os relatos consultados, começaram a surgir nas artérias da cidade em direcção ao Toural e daí rumando à Amorosa "verdadeiras torrentes de povo. E agitavam bandeiras. E gritavam em coro: Vitória! Vitória! Vitória!"

Com o campo completamente lotado, pontuado "pelo ribombante clamor do povo", "que nos pareceu sentiu o vacilar dos alicerces da frágil construção de madeira, deslindada e carcomida, onde está situada a tribuna da Imprensa", uma figura chorava. Era o avançado centro vitoriano, Ernesto Paraíso, que fora determinante naquela caminhada, mas que "por estar incompletamente curado de um padecimento muscular, não pudera ser integrado como tão ardentemente desejava na equipa do Vitória." E, assim estaria por largos minutos agarrado a um lenço, sendo que "só quando os golos apareceram, Ernesto deixou de chorar."

Apesar disso, o ambiente era de respeito, de receio. Como é escrito na Bola "ou porque os adeptos vitorianos não tivessem uma confiança ilimitada na vitória, ou até por qualquer razão alheia, até, às próprias circunstâncias, não se verificaram antes do encontro terminar, quaisquer preparativos ou sintomas de festa organizada." Apenas quando o Vitória apontou o segundo golo, de uma partida que findaria empatada a dois, puderam-se escutar uns foguetes a estourar no ar.

Porém, mal a partida findou, "a multidão lançou-se, fragorosa e irresistível, para dentro do campo. E assim como as águas de um dique, subitamente roto, se espraiam pela campina, submergindo tudo o que encontram na sua passagem, do mesmo modo a turba inundou o terreno do jogo." E, subitamente, os jogadores do Vitória surgiram no topo do mundo, leia-se em cima dos ombros dos adeptos, que os levavam triunfais, em sinal de êxito, de glória, com o corpo desnudo, fruto das camisolas terem sido arrancadas em sinal de triunfo. Como escreveu A Bola, "partidas, repartidas e disputadas pela multidão como relíquias de heróis..."

Com o pelado da Amorosa completamente lotado, em euforia e êxtase, "...sem se saber como nem donde, surgiram bandas de música, girândolas de foguetes cruzaram os ares, pandeiretas estoiraram de alegria nas costas e nas mãos de toda a gente.”

No fundo, "Guimarães viva, enfim, a festa por que tanto lutara e ansiara."

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