Aquele início de 2016 prometia ser escaldante...
Depois do arranque em falso com Armando Evangelista, o Vitória, na pessoa do seu presidente, Júlio Mendes, decidira apostar num homem que estivera envolvido em acesas polémicas com os Conquistadores na temporada anterior. Aliás, associado a si, traz sempre a polémica. Falamos de Sérgio Conceição que, depois de um início periclitante com o Rei ao peito, foi capaz de fazer crescer a equipa, estabilizando-a e fazendo com que esta pudesse pensar em repetir o apuramento europeu da época anterior.
Assim, à entrada daquela 15º jornada, a primeira desse ano, o Vitória já se encontrava, apenas, a dois pontos do quinto lugar ocupado pelo Rio Ave e a seis do quarto, o que demonstrava que a época poderia, ainda, ser salva. Todavia, para isso suceder, importava fazer um bom resultado frente ao Benfica, orientado por Rui Vitória e que saltara do D. Afonso Henriques para a Luz, de modo a manter a espiral positiva de resultados.
Deste modo, naquele segundo dia do ano, foram muitos os vitorianos que acorreram ao templo dos Conquistadores para apoiarem a equipa composta por João Miguel Silva; Bruno Gaspar, Pedro Henriques, Josué, Luís Rocha; Cafú, Bouba Saré, Otávio; Licá, Henrique Dourado e Xande Silva. Contudo, para além do adversário que estava do outro lado do campo, os Conquistadores, ainda, iriam ter de lidar com outro de ainda maior dificuldade: o árbitro Carlos Xistra, protagonista de uma polémica arbitragem e que fez vista grossa a, pelo menos, dois discutíveis lances na área encarnada, um sobre Bruno Gaspar e outro sobre Licá e, por fim, não viu a falta que originou o tento do triunfo encarnado.
Assim, quando Renato Sanches apontou esse tento, após uma estrondosa exibição do guardião vitoriano, Miguel Silva, já era muita a indignação entre os Conquistadores e que haveria de ser corporizada pelo seu treinador, Sérgio Conceição, que, no final da partida, a manifestou ao homem que apitara o desafio.
Foi aí que o caldo entornou... Percebendo-se que havia atroz indignação após a troca de argumentos, soube-se o que tinha sucedido pela própria boca do treinador vitoriano na conferência de imprensa. Citemos, pois, as suas palavras: "Fui insultado pelo árbitro, nem sei o que dizer...nas primeiras três faltas, os jogadores levaram amarelos. Uma situação dentro da área dúbia. O golo nasce de uma falta que, alguns segundos antes, o Otávio sofre no meio campo e não é assinalada. (...) Sou um treinador que (...) sou apaixonado por aquilo que faço (...) Sou uma pessoa competitiva e a equipa é à minha imagem. Mas nunca insultei um árbitro. Hoje fui insultado e um jogador meu também durante o jogo." Haveria de dizer, ainda, que "nas primeiras três vezes em que fizemos falta levámos três amarelos. À meia-hora já tínhamos três jogadores amarelados. Joguei em equipas grandes e sei como as coisas se fazem. O árbitro teve uma dualidade de critérios incrível. Insultava os meus jogadores enquanto lhes dizia para se levantarem… O futebol enoja-me por vezes. Estou completamente desiludido com a terceira equipa. No fim [Carlos Xistra] teve a hombridade de me chamar burro e pedir-me desculpa. O futebol deixa-me desiludido por vezes."
Perante a indignação dos Conquistadores, o sucedido iria desembocar num processo disciplinar ao juiz... que haveria de ser travado pelo próprio Sérgio Conceição. Quase dois meses após o que ocorrera e no rescaldo do empate a zero perante o Sporting, anunciaria que houvera aceitado o pedido de desculpas de Xistra e "Não digo isto só por aquilo que aconteceu ter sido determinado árbitro, porque eu aceitei o pedido de desculpas. Talvez ainda não saibam, fui à Liga [Portuguesa de Futebol Profissional] e foi porque eu não quis que não houve processo contra o senhor Carlos Xistra."
Assim, acabava um dos mais polémicos casos entre um treinador e um árbitro dos últimos anos...
