COMO UMA PÉROLA DAQUELE CÉLEBRE JOGO CONTRA A UNIÃO DE LAMAS CHEGA AQUI EM DISCURSO DIRECTO, EM QUE SE CONFUNDE GENIALIDADE COM UM AVANÇADO FURA-REDES, MAS QUE, TAMBÉM FUROU OS PRECONCEITOS DE SE TER O VITÓRIA NA PRIMEIRA DIVISÃO

Já muito aqui falamos do célebre jogo frente à União de Lamas, em 1942, numa partida disputada no Porto e que, cujo o triunfo por seis bolas a quatro, garantiu a ascensão do Vitória ao principal escalão do futebol nacional.

Uma partida imprópria para cardíacos, ainda que que o conjunto treinado por Alberto Augusto e que alinhou com Machado; Lino, João Bom; Castelo, Zeferino, José Maria; Laureta, Miguel, Alexandre, Ferraz e Bravo, estivesse sempre à frente do marcador.

Contudo, o momento mais marcante dessa inesquecível contenda, descobrimo-lo num jornal Notícias de Guimarães publicado anos mais tarde. Estávamos a 16 de Julho de 1961 e a publicação lançava uma rubrica, levada a cabo por Fernando Roriz, que viria a ser presidente do clube, denominada de "O Momento do Vitória - Olhando o Passado, Meditando o Presente, Prescrutando o Futuro". O primeiro entrevistado seria António Pádua Ribeiro, que assim pouco dirá a quem nos lê, mas se dissermos tratar-se de Bravo jogador daquela equipa inesquecível, permitirá absorvemos as suas palavras com redobrado interesse.

Além de analisar com pertinência o estado do Vitória naquela altura, ressalvando ser "estranho, incompreensível mesmo, mas verdadeiro", o facto de "a massa associativa do Vitória, na sua generalidade, recebeu o 4º lugar como receberia um 8º." Assim, lamentava "a muita frieza, a muita indiferença", considerando que "quanto mais o Clube sobre, mais o seu adepto quer", contaria um extraordinário episódio daquele histórico jogo contra a União de Lamas. Um episódio que não entendemos como não chegou aos nossos tempos por relato oral de quem o viveu aos mais novos...

Assim, segundo o próprio, depois de Vitória e do Olhanense se revelarem equipas capazes de ombrear com as principais do país, foi decidido alargar o campeonato principal. Contudo, existiriam diferenças entre vitorianos e algarvios. Deste modo, se estes últimos foram admitidos automaticamente no principal escalão do futebol português, os Conquistadores, como é sabido, tiveram de disputar essa vaga com o campeão de Aveiro, a União de Lamas.

Nessa partida, cujo resultado já mencionamos, segundo o próprio Bravo, existiu "um golo invulgar, que não resisto à tentação de o recordar." Um golo absolutamente sui-generis, numa das partidas mais importantes da história vitoriana, e que, repetimos, confessamos como o seu relato oral não chegou aos nossos dias, num testemunho de pai para filho, de avô para neto.

Voltemos a citar Bravo, o mágico avançado vitoriano. Assim: "em jogada individual, driblei, desde o meio campo todos os jogadores que se me opuseram e fui parar perto da cabeceira. Aí, completamente esgotado, chamei Zeferino e, cedendo-lhe a bola, proporcionei a este um tiro espantoso, que levou a bola a furar as malhas. Estou em crer que se o guarda-redes antagonista tivesse usado da habilidade de colocar a bola para pontapé de saída, talvez o árbitro não registasse o golo, tão surpreendente foi lance."

Um momento único, a carimbar a histórica subida vitoriana... o momento em que à genialidade técnica de Bravo se aliou um avançado fura-redes para rebentar com a baliza e com os preconceitos que impediam o Vitória de chegar à Primeira Divisão!

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