COMO QUASE NA ÁSIA, COMO ALGUMAS VEZES TEM ACONTECIDO, A CONFIANÇA (E ALGUMA SOBRANCERIA) TOLHEU OS PROPÓSITOS VITORIANOS...

Muitas vezes na história vitoriana, os desafios europeus sairam ao contrário do esperado.

Tal sucedeu com diversos adversários em que o hipotético favoritismo saiu ao lado, sendo os Conquistadores completamente surpreendidos pelos ímpetos adversários. Bastará citar os exemplos do Altach, do Konyaspor e mais alguns casos como o Fernerbahce, longe de ser a equipa de créditos firmados que hoje é, sendo, inclusivamente, treinador por José Mourinho.

Estávamos no início do exercício de 1990/91, sendo que o arranque dessa temporada fora demasiado atribulado desde o estágio de pré-temporada realizado no Brasil e onde o lateral Nando foi alvejado com um tiro, salvando-se por milagre, a um péssimo arranque de temporada encetado com uma derrota pesada em Alvalade e um desaire frente ao Benfica... num jogo disputado em Braga.

Porém, nem assim a esperança e a confiança foram postas de parte quando as bolas do sorteio ditaram a viagem vitoriana até Istambul. Bastará analisar o jornal Notícias de Guimarães de 13 de Julho de 1990 que, ao dar a notícia do acasalamento entre as duas equipas, considerava o adversário turco "como uma verdadeira incógnita", para no número seguinte do jornal tal desconhecimento ser reiterado, ainda que "é um adversário ingrato porque não permite uma saída em glória. Claro que o temos de qualificar como acessível para o Vitória."

Assim, quando a equipa vimaranense rumou a Istambul para disputar a primeira mão daquela eliminatória europeia, a curiosidade e o exotismo eram os "pratos do dia." Um exotismo tão grande que, ainda, era apimentado pela Guerra do Golfo, algo que não merecia destaque no país destino desta digressão, fruto de na Turquia viver-se "num regime onde não existe Democracia plena, o que leva a que o cidadão só saiba o que o Governo entende que se deve saber." Deste modo, nas primeiras páginas dos jornais, em vez de surgir o presidente iraquiano Saddam Hussein, aparecia o preparador físico do clube... Pina de Morais, "que era para eles a identidade do Vitória."

O jogo, esse, seria condicionado pelo terrível ambiente que toldou a equipa vitoriana, consubstanciado numa "assobiadela de 45 mil pessoas", que terá desconcentrado os Conquistadores, que ao intervalo, de modo surpreendente, já perdiam por duas bolas a zero, ainda que o primeiro golo da equipa da casa "em posição de fora de jogo." Porém, mais do que esse medo cénico, mereceram críticas as opções de Paulo Autuori que "deixou em Guimarães os dois laterais (Nando e Vítor Santos), para além do lesionado Fonseca." Além destes, também não convocou o médio Carvalho "que poderia ser solução para algumas lacunas existentes no meio campo." Mas mais do que isso, merecia censura "deixar no banco um ponta de lança como Ziad quando durante 2 anos os adeptos vitorianos andaram a gritar pela falta dessa espécie em vias de extinção."

Deste modo, com tantos erros, o Vitória, ainda, haveria na segunda metade sofrer o terceiro tento, revelando-se a equipa composta por Jesus; Bené, Germano, Jorge; Alberto, Soeiro, N' Dinga, M'Bouh, Basílio; João Baptista e Chiquinho incapaz de suster o ímpeto turco que ainda haveria de chegar ao terceiro golo, quase garantindo a passagem na eliminatória.

Apesar da derrocada, mesmo assim, ainda se escrevia que "quanto ao Fenerbahce voltamos a reforçar a ideia de que é uma equipa modesta", considerando que o problema do Vitória era psicológico. Tanto que "até ao jogo da segunda volta, o Vitória pode muitíssimo bem mostrar aos turcos como se joga futebol e pensar na segunda eliminatória." Ora, tal seria uma utopia alicerçada numa hipérbole... na segunda mão, já sem Autuori no banco, o jogo voltaria a ser perdido por três bolas a duas, graças a uma entrada catastrófica. Na verdade, aos 25 minutos do prélio, já o Vitória perdia por duas bolas a zero... mas isso será matéria para outra história!

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