A frio...podia ter corrido melhor! Podia ter mesmo corrido melhor, apesar de percebermos as diferenças existentes entre o futebol português e o espanhol.
Com efeito, por culpa da maioria dos agentes desportivos, extinguiu-se a chamada "classe média" no futebol português, numa política de discriminação clara de clubes para além dos três do aparelho. Um caminho que levou a que o Vitória, em vários anos de existência de Liga das Conferências, fosse o primeiro clube português a conseguir entrar na fase "a sério" da prova.
Porém, a verdade é que em Portugal, ao contrário dos países europeus próximos no ranking, não se pensa assim. Olha-se para o fortalecimento integrado das Ligas como condição de crescimento e engrandecimento do futebol. Dão-se condições para que os clubes (todos eles) se preparem devidamente para este tipo de jogos, ao invés de sobrecarregá-los no calendário, como aconteceu nesta eliminatória ao Vitória. Estudam-se estratégias para diminuir o fosso competitivo entre os participantes nas ligas internas, de modo a que possam estar ao nível competitivo desejado.
Aqui, funciona ao contrário. Combatem-se os direitos televisivos centralizados porque teme-se que os pequenos e médios clubes se desenvolvam e se tornem independentes. Assinala-se de cruz os que querem pensar pela própria cabeça, recordando-os que não devem desalinhar com arbitragens polémicas. E, acima de tudo, numa tacanhez que as redes sociais vieram promover, alegram- se pelos desaires de algumas equipas nas competições europeias... depois de já terem passado por humilhações iguais ou maiores. Mais, bate-se palmas a feitos como os do Leicester ou da Atalanta e ataca-se vilmente e de modo insidioso quem no nosso país, tão só, tenta!
Mais do que isso, as crises de identidade que grassam em Portugal. Assistimos a coligações de adeptos dispostos a irem a uma cidade do próprio pais espalharem o caos. A darem-se ao trabalho de apoiarem um clube estrangeiro para depois, hipocritamente, perorarem os pontos necessários para o ranking... ou então, os pequeninos que temem a segunda (feira) mas que sabem que ela chegará inevitavelmente a alegrarem-se pelo resultado negativo, esquecendo-se da miríade de anos que nem sequer pisam esses palcos para ousarem fazer melhor, fazer diferente.
Por isso, mais do que pelas alegrias provocadas no percurso, a caminhada vitoriana foi uma pedrada no charco. Foi o desmistificar de algumas mentalidades rancorosas. Foi o desmascarar de (muitos) hipócritas. Foi a denúncia de invejosos. Foi o assumir que, por muito que tentem, é possível haver clubes diferentes nas competições europeias. Foi a certeza que a todos é permitido sonhar... pena que num país invejoso, rancoroso e tacanho como Portugal muitos não alcancem isso!
PS - Quando um clube português conseguir ficar em segundo lugar na fase da liga de uma prova europeia, colocaremos como imagem o seu emblema durante um mês...seja ele qual for!