Paulinho Cascavel será inesquecível no Vitória.
Foram duas temporadas de Rei ao Peito, mas que significaram 60 golos em 76 partidas. Uma referência inesquecível que, após ter sido vendido ao Sporting no final da temporada de 1986/87, levou a que os Conquistadores, enquanto não descobriram Ziad, vivessem numa absoluta abstinência de um homem de área.
E, Paulinho de leão ao peito, haveria de ser feliz...durante duas temporadas enquanto Cintra não foi capaz de contratar o bibota de ouro Fernando Gomes, que em feroz litígio com o FC Porto tivera tudo acertado para rumar ao Vitória, sendo desviado para Alvalade em cima da linha de meta, e na época seguinte o brasileiro Careca, que nos seus habituais "latifúndios orais", o então presidente leonino considerou tratar-se do "novo Eusébio."
Com duas apostas tão assumidas nos dois pontas de lança, teriam de existir excedentários. Seria Paulinho Cascavel o elo mais fraco, o homem que em quatro épocas, divididas entre Guimarães e Lisboa, marcara 105 golos, mas que não cabia no projecto desportivo de Cintra, ansioso por "comer o mundo", para acabar com o jejum de títulos que os verde e brancos na altura viviam.
Por isso, como o jogador tinha contrato e não estava disposto a prescindir dos seus direitos, terá vivido o inferno na terra naquela pré-temporada de 1990/91. De herói passara a proscrito. De lugar-tenente de Fernando Gomes fora quase obrigado a desertar, sendo abandonado na caserna. Aliás, como o próprio reconheceu em entrevista ao site Rugido Verde, a 06 de Agosto de 2019, "Durante uns tempos, fui encostado. Nem podia treinar com os meus companheiros. Andei a treinar sozinho, equipava-me sozinho… Só muito tempo depois é que os advogados das duas partes se entenderam e saí do Sporting. Magoado. Não com o clube nem com os dirigentes ou com os jogadores, mas com Sousa Cintra.”
Uma mágoa que o "Rei das Águas", nada fazia para apaziguar ou atenuar. Pelo contrário! Estávamos a 19 de Agosto de 1990 e os Conquistadores, orientados por Paulo Autuori, deslocavam-se a Alvalade para dar o pontapé de saída no Campeonato Nacional daquele ano. A alinharem com Jesus; Germano, Basílio, Jorge; Nando, João Baptista, N´Dinga, Basaúla, Fonseca; Chiquinho e Ziad viveriam uma segunda parte de pesadelo para uma equipa que na temporada anterior ombreara com os mais fortes do campeonato português. Com efeito, aquela segunda parte em que o conjunto vitoriano sofreria três golos sem resposta, depois de ter chegado ao intervalo empatado a zero, selaria um arranque de campeonato difícil, levando a que o Notícias de Guimarães de 24 de Agosto de 1990, considerasse ter-se tratado de "um jogo cuja exibição do Vitória deixou preocupados os adeptos (...), mas também, o seu técnico que não gostou da reacção dos seus pupilos dentro de campo, do estado psicológico exibido pelos mesmos e da forma como sairam do rectângulo, de cabeça baixa."
Porém, se os vitorianos viviam horas de angústia, Sousa Cintra era o tradicional folclore misturado com fandango e corridinho algarvio, aliado à alegria de Marinho Peres que, por esses dias, era a esperança leonina para guiar o clube ao êxito. Por isso, o presidente leonino ao ser confrontado por vitorianos sobre o limbo em que colocara Paulinho, o bem-amado dos vitorianos, não foi de modas e atirou: "Mas ele é bem querido em Guimarães? Então, levem-no. Olhem, ele está ali e aceitem-no como uma oferta minha ao Vitória. É de graça."
Paulinho não haveria de regressar ao clube onde fora mais feliz, acabando a actuar, por pouco tempo, no Gil Vicente. Quanto a Cintra e Marinho não haveriam de ser mais felizes, acabando o campeonato no terceiro posto, ainda que nas catorze primeiras jornadas não tivessem conhecido a derrota e só empatado por duas vezes.