Já muito escrevemos sobre o inesquecível título distrital de 1934, em que a equipa vitoriana, pela primeira vez, abriu brechas no domínio do SC Braga. A contribuir para isso, esteve o triunfo por uma bola a zero na final do campeonato, no Benhlevai, graças a um tento solitário de Paredes.
É a ele que recordamos, graças a um documento único descoberto nas nossas pesquisas e que se encontrava inserto no jornal Povo de Guimarães de 04 de Abril de 1984, por altura das celebrações do meio século de tão marcante conquista, que significou a viragem de agulhas do futebol minhoto, com Guimarães a ocupar o epicentro de uma modalidade controlada pela capital de distrito.
Como o próprio reconheceu esse campeonato foi difícil de ganhar, porque "no clube bracarense havia também bons valores. Basta lembrar que alinhavam por ele, Alberto Augusto, que era simultaneamente treinador e também Lima, guarda-redes, Muchacho, Aragão e Machadinho.... Mas o conjunto fafense, no meu entender, era mais homogéneo."
Apesar disso, seria o Vitória a conseguir a sua primeira grande conquista, depois de um jogo, que segundo o próprio, foi "...uma luta, praticamente, sem qualquer momento de tréguas." Até que se chegou ao desenlace da partida, ".... quando faltavam dois minutos...". Na verdade, como confessou "... fui eu que disse para o Ricoca que colocasse a bola na minha frente. Tomei, então, conta dela, dominada e avancei. Passei por Alberto Augusto e outro jogador, nuns dribles em profundidade. Lima saiu da baliza quando me viu pela frente e eu, com uma tranquilidade que não sei explicar, atirei para as redes, fazendo o golo."
Era o caminho para entrar na eternidade de um jogador que "Abandonei quando tinha pouco mais de 21 anos, para trabalhar." Ainda assim, "também me fizeram alguns convites, por exemplo, o Porto e o Sporting."
E já que se falava em trabalho, nada como terminar relembrando o que faziam os heróis de 1934: " O Ricoca, guarda-redes, era trolha; eu começava a trabalhar num escritório; o Manecas, que era o meu par na defesa, era empregado de armazém; Freitas era proprietário; Laureta, o único que não era de Guimarães, exercia a profissão de empregado de café; o Mário era sapateiro. Estes três constituíam a linha média. Quanto aos avançados, Fonseca era marceneiro, Lameiras trabalhava numa padaria; Faria, parece-me que acabou de estudar (infelizmente, morreu pouco depois); Virgílio também era sapateiro; e o Bravo estava no comércio dos móveis. A estes será de juntar Camilo, colchoeiro; Elísio, empregado de escritório; Cardoso do Vale que, em tempos recentes, foi Presidente do Clube, etc...." Por isso, concluía que "Agora.... o jogador não fazias nada, além de jogar." Outros tempos, nas palavras de um dos primeiros grandes heróis da história vitoriana..