Era a temporada de 2006/07, a da descida aos infernos. Um exercício em que o Vitória teve de disputar a Liga 2, experimentando as dificuldades de actuar num escalão diverso, perante equipas com filosofias de jogo a que não estava habituado e, acima de tudo, com um onze completamente novo, com claras dificuldades de entrosamento na fase inicial do ano.
Por isso, o treinador, também ele chegado naquele exercício, Luís Norton de Matos, apesar de ter tido papel determinante na escolha dos muitos dos jogadores, como os franceses Dembélé, Nemouthé, Desmarets e Ghilas, teve sérias dificuldades na parte inicial do campeonato. Tão grandes que quando o, então, presidente, Vítor Magalhães, perdeu a paciência e decidiu despedi-lo, a equipa tinha acabado de ser desfeiteada no D. Afonso Henriques frente ao Gondomar, seguia no quinto posto da tabela, tinha averbado cinco derrotas em catorze partidas e já se encontrava a cinco pontos dos lugares de promoção.
Assim, aquele período pré-natalício de 2006 antevia-se escaldante. Deste modo, a primeira medida vitoriana passou pela partida do técnico Norton de Matos que assumiu sentir-se "... frustrado como qualquer treinador que não consegue atingir o seu objectivo na certeza de que um resultado como o de domingo faz toda a diferença entre o viver em tranquilidade ou não." Porém, uma decisão teria de ser tomada, já que, como o próprio treinador reconheceu, "Falei com o Presidente numa conversa bastante civilizada e uma das coisas que mais me custa é deixar o clube. Só posso dizer viva o Vitória pela sua grandeza e por aquilo que representa como clube. O Presidente apresentou duas hipóteses: ou continuava ou saía. Mediram-se prós e contras, apresentamos os pontos de vista e penso que estou a fazer parte de uma solução..."
Solução essa que passava pela contratação de um sucessor e cuja aposta, desde logo, centrou-se em Manuel Cajuda que, na altura, apesar de ainda estar a viver uma aventura no Egipto, no Zamalek, previa-se que pudesse abandonar a breve prazo o país dos Faraós.
Assim, chegaria na antevéspera de Natal a Portugal para se encontrar com os responsáveis vitorianos, de modo a alinhavar os pormenores do seu contrato e delimitar as carências do plantel para atacar a segunda metade do campeonato. Seria anunciado oficialmente no dia seguinte, para ter a sua apresentação oficial após o Natal. Nesta, Vítor Magalhães, como escreveu o jornal Record de 27 de Dezembro, Cajuda "conhece os meandros do futebol português, Liga e Liga de Honra, e obedece à estratégia de aposta forte para o regresso imediato ao escalão superior", ainda que a simples mudança de treinador não resolvesse tudo.
Porém, reiterava que "O objectivo é a subida de divisão e acreditamos no plantel que dispomos, embora admitamos fazer alguns reajustamentos. Não vamos trabalhar sob pressão. Temos jogadores referenciados, mas ainda vamos analisar pormenorizadamente e em conjunto com o técnico". Naquele Natal chegava a medida decisiva para o Vitória regressar ao seu habitat natural, ainda que Cajuda nos três primeiros jogos perdesse dois, em Olhão e em Vizela, e empatasse em casa perante o Varzim. A partir daí seria uma caminhada imparável que só culminou com o Regresso do Rei... mas isso será outra história!