Era 25 de Janeiro de 2004...
O Vitória de Jorge Jesus apresentava claras dificuldades em manter um ritmo ao nível do anterior ano em que roçara os lugares do pódio sob o comando de Augusto Inácio.
Este, porém, vergado à ditadura dos resultados, já houvera partido e para o lugar dele, Pimenta Machado recorrera a Jorge Jesus, que teve um percurso difícil, demorando a encarreirar.
Nesse trajecto sinuoso, depois de um cinzento empate em Leiria, seguia-se o jogo com o Benfica... o jogo onde todos nós perdemos!
A alinhar com Palatsi; Abel, Cléber, Bruno Alves, Rogério Matias; Flávio Meireles, Afonso Martins, Nuno Assis; Guga, Romeu e Rubens Júnior, a partida decorreu sob uma irritante chuva que parecia já, em tom de augúrio, chorar o triste desenlace da partida.
Na verdade, o jogo seria embrulhado, com poucas oportunidades de golo, sem momentos de grande emoção, muito por culpa da teia bem urdida pelo treinador vitoriano, capaz de prender os movimentos aos adversários.
Até que chegamos ao minuto 59 da partida, quando o treinador encarnado, José António Camacho, resolveu mexer na equipa, retirando João Pereira e colocando em campo Fehér.
Não teria influência decisiva na partida, quando já no período de descontos teve intervenção no golo do triunfo da sua equipa, num lance em que a arbitragem de Olegário Benquerença foi incapaz de descortinar que a bola centrada por Simão Sabrosa para o golo de Fernando Aguiar já se encontrava para lá das quatro linhas.
Porém, passado um minuto, já ninguém se lembraria disso, ou tal seria importante. A bola foi reposta em jogo, sendo lançada para o último reduto benfiquista que a aliviou pela linha lateral. Rogério Matias tenta marcar rapidamente o lançamento, mas é impedido pelo jovem húngaro que se coloca à frente dele. Olegário Benquerença chama-o junto de si, admoesta-o com o cartão amarelo. Este afasta-se, sorri, ajeita o cabelo e cai fulminado perante o choque de todos.
Perante o desespero de todos, com as bancadas, independentemente de cores a viverem um impressionante transe colectivo a gritarem o nome de Fehér, tudo se tentou para o salvar. Deixou de existir um jogo de futebol e passou a existir uma intensa comunhão e corrente colectiva para se salvar a vida de uma pessoa.
Fehér seria levado para o hospital, depois das primeiras manobras de reanimação. De nada adiantariam e aí seria declarada a sua morte. A partida, essa, seria retomada para ser finalizada segundos depois aquele famigerado lançamento de linha lateral. Já não importava... ninguém tinha ganho, todos tínhamos perdido!
Foi há 20 anos.