Manuel Gualter Martins da Costa foi um produto da cantera vitoriana que haveria de render bom dinheiro aos Conquistadores no final da inesquecível temporada de 1968/69 quando foi vendido ao FC Porto.
Com efeito, depois de muitas peladinhas junto ao estádio ou do castelo, o jovem Gualter abraçaria a oportunidade de vestir a camisola do clube do Rei, estreando-se a titularia na temporada de 1964/65 sob a mão do treinador José Valle. Seria um início de um período de cinco temporadas na equipa sénior do clube, onde se destacaria, mas que haveriam de o fazer ganhar medo aos aviões, um meio de transporte necessário para quem decidiu abraçar a profissão de jogador de futebol.
As razões eram simples mas, simultaneamente, aterradoras. Na verdade, no final daquela temporada de 1968/69, em que os Conquistadores conquistaram um meritório terceiro lugar, o primeiro da sua história, foi o conjunto treinador por Jorge Vieira convidado a disputar uma partida frente ao Lyon em Clermont Ferrand. Assim, depois de ter aterrado em Paris, onde o guarda-redes Rodrigues tinha o pai que não via à muitos anos à sua espera, a comitiva embarcou para o seu destino final. Seria nesse voo interno com destino a Clermont Ferrand que a tragédia quase sucedeu, com o avião a "afocinhar e... só por milagre é que não houve uma tragédia", como confessou à revista Colecção Ídolos do Desporto com data de 26 de Fevereiro de 1972.
A outra experiência negativa tinha ocorrido antes, aquando da digressão vitoriana a Nova York em 1964 e, apesar de não ter a comitiva dos homens do Rei como protagonistas principais foi igualmente assustadora. Na verdade, como o próprio recordou na mesma publicação, "A malta fora fazer compras e eu fiquei no aeroporto a ver chegar e partir aviões. Quando um dos aparelhos levantou voo e subiu sensivelmente à altura de vinte metros, deu-se horrível catástrofe." Na verdade, o aparelho havia de despenhar-se, criando uma bola de fogo, e que deixou as treze pessoas que nele viajavam completamente queimadas. Como o próprio confessou, "fui das poucas pessoas que vi esse desastre e corri como louco à procura dos meus colegas para lhes comunicar a triste ocorrência."
Porém, o maior dos seus sustos ocorreria quando já não era jogador do Vitória, mas actuava pela primeira vez contra o seu clube do coração, depois de ter sido transferido pela quantia de 1200 contos para o FC Porto e após ter passado um período de tempo escondido numa quinta na margem esquerda do Rio Douro em frente a Valbom, para obstar à sedução que o Belenenses tentava exercer. Um incidente tão grave que terá colocado mesmo em risco a sua carreira, já que "ao tentar evitar um golo, voei por entre os meus camaradas Valdemar e Vieira Nunes, mas reconhecendo serem escassas as possibilidades de êxito. Ao voar agarrei Carlos Manuel pela camisola, tentando evitar que ele prosseguisse com a jogada e fizesse golo. Foi nesse instante que saí ao nosso encontro o meu colega Vaz e chocou comigo. Só sei que caí desamparadamente na relva, sem que me recorde de algo mais, posto que fiquei sem sentidos e só os recuperei mais tarde no Hospital de S. João. " Viveria uma recuperação morosa, só havendo de regressar aos relvados mais de três meses depois!
Para quem ganhou pavor aos aviões, seria nos relvados e contra a equipa do seu coração que Gualter mais riscos de vida correria...