UM PRESIDENTE EM TEMPOS DIFÍCEIS

Para ser presidente do Vitória é necessário possuir um conjunto de características próprias de um predestinado. Frieza e fortaleza de carácter, capacidade para resistir aos ataques que é alvo, espírito de missão e algum desprendimento.

Porém, em certos momentos, algumas destas características serão mais importantes do que em outros. Falemos, pois, de António Rodrigues Guimarães, presidente do clube entre 1974 e 1976, que foi um período difícil e marcante quer na história do país, quer na história do Vitória e só capaz de ser gerido por alguém com características muito vincadas.

Comecemos pela situação do país. Rodrigues Guimarães, durante o seu mandato, teve de conviver com a Revolução dos Cravos que alterou, decisivamente, o panorama político do país. Possuidor de ligações ao antigo regime, teve de enfrentar algo nunca visto no Vitória e que foi o confronto entre ideologias políticas nos sócios. Na verdade, um associado, de nome João Mota Ribeiro, resolveu contestar a sua ligação com o anterior regime, o que desencadeou um grande tumulto entre sócios. Existiria mesmo uma assembleia-geral destinada a expulsar o referido associado, que não se efectuaria pela ausência dos peticionantes, sendo que no acto seguinte, o discurso do antigo presidente, António Faria Martins, teve papel determinante. Sem pedir a expulsão de Ribeiro, uniu os associados que acabaram por ir em cortejo a Pevidém, onde residia o líder vitoriano, para o desagravar pessoalmente das acusações, fazendo com que continuasse em funções, sendo reconduzido seguidamente numa direcção que abriu as portas a António Alberto Pimenta Machado que, pela primeira vez, integrou uma direcção vitoriana.

Porém, António Rodrigues Guimarães seria, também, o presidente que teve de lidar com as arbitragens que, provavelmente, mais terão custado ao Vitória. Assim, na temporada de 1974/75, depois de jogadores como Almiro, Jeremias ou Tito terem feito sonhar os vitorianos, o objectivo europeu morreria na derradeira jornada, naquele jogo que era uma verdadeira final frente ao Boavista. Tal deveu-se a uma infeliz arbitragem de António Garrido que sofreria, como já narramos noutro escrito, a fúria dos vitorianos e que levou a que a justiça desportiva condenasse duramente o Vitória, a ponto de os árbitros das associações de Leiria e de Lisboa vetarem os jogos dos Conquistadores enquanto o juiz não fosse indemnizado, bem como o estádio foi interditado preventivamente.

O facto do clube ter recorrido do castigo levou a que os árbitros, solidários, para não dizer corporativistas, com o seu colega, levassem a sério a intenção de não comparecerem aos jogos. O presidente teve de resolver isso a expensas próprias, indo ao próprio bolso para pagar uma indemnização de 50 contos para que o Vitória pudesse entrar em campo.

Porém, tal não resolveu-lhe o problema com o árbitro. No ano seguinte teve de lidar com o maior roubo da história vitoriana, pior até do que aconteceu em Basileia. Terá errado em aceitar Garrido para árbitro da final daquela Taça de Portugal de 1976, mas um homem bom não tenderá a olhar com excessiva desconfiança ou maldade para os seus parceiros. Foi a sua culpa!

No final de tão prejudicial contenda, diria que "desejo apresentar os parabéns ao Boavista que foi um vencedor digno. Simplesmente, este jogo ficou marcado por uma arbitragem péssima do Sr. António Garrido na linha das anteriormente realizadas. É pena que esse senhor tivesse sido escolhido para arbitrar esta final de grande responsabilidade. António Garrido é um árbitro falhado. Julgo que nunca deveria ter sido escolhido para arbitrar esta grande final. Teve sempre, desde o início, a nítida intenção de prejudicar o meu Vitória SC. Foi mais que evidente. É um juiz incompetentíssimo que devia ser positivamente banido do futebol nacional.”

Abandonaria o Vitória no final desse ano, para falecer a 15 de Novembro de 2019. Terá o seu lugar para sempre na história do Vitória até por ter tido contributo decisivo para a construção do estádio onde hoje o Vitória nos faz felizes.

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