Aquele Vitória na temporada de 1985/86 era a surpresa do campeonato. Orientado por António Morais e alicerçado na voracidade goleadora de Paulinho Cascavel, chegava à decima jornada nos lugares cimeiros da tabela, tendo empatado apenas dois jogos e sofrido uma derrota no recinto do eterno rival.
Até que chegamos a essa etapa da prova maior do nosso país, disputada a 03 de Novembro de 1985, perante a Académica, com a arbitragem de um homem com nome de escritor: Júlio Dinis da Associação de Futebol de Leiria.
A alinhar com Jesus; Costeado, Valério, Teixeirinha, Miguel; Costa, Nascimento, Adão; Roldão, Cascavel e Horácio Gonçalves, perante um dia de temporal, o Vitória, para além dos academistas, teve de suportar uma equipa de arbitragem que, segundo os jornais da época... viu-se a salvo da indignação popular por causa da intempérie.
Na verdade, os coimbrões adiantaram-se no marcador com um golo irregular, que "como disse um jornalista: uma criança posta no alto da Penha, tê-lo-ia visto, menos o árbitro e os seus capangas a meia dúzia de metros de distância.", segundo o Comércio de Guimarães.
O Vitória haveria de empatar depois do intervalo, graças a um golo de Teixeirinha, mas, o desacerto arbitral continuaria. Aliás “a miopia do juiz foi recebida pacientemente pela assistência em tarde de boa disposição. Se não fosse essa feliz circunstância, Júlio Dinis e companhia teriam levado muito mais que contar e umas lembranças para toda a vida. Tiveram tanta sorte que duplicaram a asneira ao invalidarem um golo ao Vitória, que seria o seu triunfo."
Concluiria o escriba ao dizer que "tiveram dupla sorte estes três cavaleiros de triste figura que vieram a esta cidade provar que a asneira é livre em Portugal..."
Ora, se os adeptos, apesar da indignação, reagiram de modo relativamente tranquilo ao falhanço da aproximação aos dois primeiros lugares do pódio, a direcção vitoriana não se ficou. Emitiu um duro comunicado em que, apesar de manifestar confiança no Conselho de Arbitragem liderado por Pinto de Sousa, lamentava que árbitros com traquejo fossem desterrados para as partidas da II Divisão, enquanto inexperientes, como este Júlio Dinis, apitassem partidas importantes do principal campeonato.
Como consequência deu-se o "aparecimento prematuro do citado árbitro: validação de um golo da equipa visitante em nítida situação de fora de jogo; invalidação de um golo à equipa visitada em situação perfeitamente legal (..); total dessincronizarão entre o árbitro e os fiscais de linha."
Apesar de reconhecer ter existido, apenas, incompetência, os responsáveis vitorianos exigiam a reparação do ponto sonegado ao Vitória, tido como um grave prejuízo, bem como o afastamento desta equipa de arbitragem.
Não obstante a indignação com o juiz com nome de escritor, a época, ainda, haveria de ficar marcada por outro infeliz momento de arbitragem... um tal de José Guedes, no desafio da Luz, frente ao Benfica, e que terá arruinado todas as ambições da conquista de um inédito título... mas isso, será outra história!