Lembremos a história de José Rego. Uma história que fará reflectir e que servirá de exemplo aos jovens vitorianos que sonham chegar ao topo, tendo futebol para isso...
Natural de Mujães do concelho de Viana do Castelo, proveniente de uma família de futebolistas, chegou a Guimarães ainda júnior. Rapidamente convenceu tudo e todos, tornando-se numa das estrelas das camadas jovens, graças à sua visão de jogo e ao seu pontapé bombástico capaz de atormentar os pensamentos de qualquer guarda-redes.
Por isso, não causou qualquer surpresa a sua ascensão à equipa principal na temporada de 1999/2000, depois de um empréstimo ao Fafe, que na altura era clube satélite do emblema do Rei e onde "pintou a manta", tendo chegado aos vinte golos na temporada.
Rego era, por isso, uma das grandes esperanças vitorianas ao lado de nomes como Fernando Meira, Lixa ou Pedro Mendes. Começaria a titular no esquema gizado por Quinito, chegando, inclusivamente, a apontar um golo na segunda jornada no triunfo sobre o Farense por três bolas a zero, graças à sua imagem de marca: um tiro fortíssimo sem hipóteses de defesa.
Porém, esse seria o ano em que as lesões começariam a surgir, atormentando o jogador. A juntar a essa situação, um problema, ainda, hoje presente quando se tem de lidar com um atleta em final de contrato. Foi por aí que a corda terá começado a esticar, com o jogador, que era representado por um ainda jovem Jorge Mendes, a protelar sucessivamente as ofertas realizadas pelo Vitória, por não aceitar que lhe pagassem o mesmo que ganhava na altura em que estava cedido ao Fafe. Pimenta Machado, esse, haveria de retorquir, garantindo que "há cerca de um ano que estamos a tentar renovar com o Rego e foram apresentadas exactamente as mesmas condições do Lixa e do Pedro Mendes. Não vamos abrir uma excepção quando os outros atletas aceitaram."
Tal discordância foi o início de um conflito que teve outros episódios. Na temporada seguinte, Rego só seria usado por uma vez, durante cinco minutos, já sob a liderança de Augusto Inácio, no triunfo por três bolas a zero frente ao Desportivo das Aves, sendo quase certo que não iria ficar em Guimarães, por causa disso.
Quase de seguida, lesionar-se-ia gravemente no joelho, o que o fez não mais jogar no Vitória. Sem chegar a acordo com o clube, sem capacidade de actuar em outro clube fruto do funesto acontecimento que lhe tinha sucedido, ficou com uma promissora carreira praticamente arruinada.
Porém, ironia das ironias, ainda antes do seu contrato findar com o Vitória, resolveu submeter-se por iniciativa própria a uma operação cirúrgica em Vigo para debelar o problema, o que ainda lhe custou um processo disciplinar. Iria, já livre de qualquer compromisso contratual, convalescer para as montanhas de Manzaneda... onde, por essa altura, os seus antigos colegas estavam em estágio, o que causou uma verdadeira situação confrangedora.
Com efeito, alguns episódios ocorreram por aqueles dias, num apronto para a temporada de 2001/02 que devia ser o mais pacífico possível. Assim, apesar do jogador esconder-se da comitiva vitoriana, vários antigos colegas, treinadores, dirigentes e elementos do departamento médico conversaram com ele. Nuno e o funcionário José Manuel Oliveira, que partilhavam um quarto, estavam a seu lado. O médico do Vitória, Salazar Coinbra, chegou a trocar argumentos dentro do carro com o fisioterapeuta do jogador, António João. Um jogador do Vitória, a queixar-se de dores nas costas, foi assistido pela fisioterapeuta de Rego, o que levou a que o departamento médico pedisse explicações, discutindo com o fisiólogo do jogador em espaço público. Inácio ao sentir o barril de pólvora que estava a instalar-se, resolveu agir e determinou o afastamento do grupo do massagista Fernando Von Doellinger, um histórico de muitas batalhas.
A este último ser-lhe-ia instaurado um processo disciplinar por, alegadamente, ter prestado apoio clínico ao antigo jogador do clube.
Quanto a Rego, voltaria a jogar na temporada 2002/03 no Vianense, para passar por clubes de menor dimensão até 2013/14, quando acabou a sua carreira no Neves. Na época passada foi o treinador do Cerveira. Podia ter sido um grande, mas...