QUANDO UM LINGRINHAS AFUGENTOU UMA MULTIDÃO...

Estávamos na temporada de 1975/76.

O Braga, eterno rival do Vitória, estava de regresso à Primeira Divisão, depois de cinco anos no segundo escalão do futebol português. Por isso, aquele derby com o Vitória era visto como uma hipótese de afirmação perante os Conquistadores, na altura, já, um dos emblemas mais consolidados do futebol português.

Afirmação pela violência, diga-se. Assim, mal os vitorianos ocuparam o seu tradicional lugar no Estádio 1º de Maio, atrás da baliza do lado da estrada que liga o Berço à cidade vizinha, começaram a atirar pedras, a que os vitorianos tentaram retorquir na medida do possível. Porém, diga-se, que os adeptos bracarenses gozavam da vantagem de os porteiros permitirem-lhe sair do recinto, para das imediações trazerem projécteis capazes de atingir os vitorianos.

Fruto desse arremesso de pedras e outros objectos contundentes, os vitorianos foram-se refugiando do outro lado da bancada. Tal levou a que se formasse uma densa clareira, que levou os agressores a tentarem irromper pelo espaço reservados aos adeptos que vinham de Guimarães, começando a subir as redes de protecção que dividiam os espaços.

Porém, do nada, o inesperado sucedeu. Do meio da multidão, irrompeu uma figura típica vimaranense, famosa pelos seus quiproquós com a polícia. Uma figura de frágil condição física, o que, costumamos chamar de "lingrinhas". Era o Zé Lingrinhas, conhecido pelos seus constantes problemas judiciais e que procurava sempre uma solução para as suas questões mais ou menos intrincadas.

Assim, decidiu irromper, sozinho, em direcção aos agressores. Estes, atónitos, com a ousadia de um vitoriano de pouco mais de um metro e sessenta e de cinquenta e poucos quilos, terão começado a sorrir. Que desfaçatez de um homem que qualquer um deles poderia neutralizar!

Porém, a surpresa tomou conta de todos. Dos bolsos, tirou dois revólveres que exibiu aos adeptos adversários, bradando: "O que quereis meus filhos da p***?"

Nesse momento, tudo mudou! Os agressores puseram-se em fuga. As pedras cessaram de cair do lado dos vitorianos. E o ambiente tornou-se tão tranquilo nas bancadas, como o jogo seria. Na verdade, o empate a zero final não terá ficado na memória de quem assistiu à partida, mas aqueles momentos jamais foram esquecidos por quem os presenciou!

Postagem Anterior Próxima Postagem