PACTOS DE NÃO AGRESSÃO

rivalidade entre Vitória e Braga é algo de lendário.

Algo de marcante, numa história que, ao longo dos anos, tem tido capítulos de luta árdua, de sururus diversos, de momentos acalorados.

Porém, houve dois jogos que ficaram na história pelo contrário: o da penúltima jornada de 1987/88 e o da última de 1996/97.

Comecemos pelo primeiro caso. Na penúltima jornada de um campeonato disputado a 20 equipas, encontravam-se os vizinhos. Com ambas as equipas abaixo das expectativas, a lutarem pela manutenção, o triunfo seria a garantia da tranquilidade. Nestas contas, também, entrava a Académica que, recebendo o FC Porto, se vencesse poderia complicar as contas às equipas minhotas. Ainda para mais, com António Oliveira, que fora treinador do Vitória ainda nessa época, mas também antigo jogador dos portistas, a treinar os coimbrões... o que levantou suspeitas que estes pudessem facilitar!

Porém, o jogo seria especial. Desde logo, pelo facto de, apesar de estar agendado para a mesma hora do de Coimbra, ter principiado dez minutos após o marcado, para que se pudesse saber o resultado. O Vitória, esse, entrou a todo o gás. A atacar. Como não houvera actuado na maioria das partidas nesse ano. Adiantou-se no marcador num golo de compêndio de Adão, que nesse dia despediu-se do estádio do Vitória.

Porém, o Braga, na segunda parte acabou por igualar a partida. Quase em simultâneo, o Porto haveria de marcar o golo da vantagem em Coimbra, o que desencadeou um inusitado facto. Os últimos minutos da partida em Guimarães foi disputado com as equipas a trocarem a bola entre si, de modo a não correrem riscos de ofenderem a outra. Com o empate, quer Vitória, quer Braga ficaram com a manutenção quase carimbada... ainda que a equipa vitoriana se despedisse do campeonato a perder por três bolas a zero no Bessa.

Passaram nove anos e as condições eram completamente assimétricas. Com o Braga de Cajuda em quarto e o Vitória de Jaime Pacheco em quinto, um triunfo vitoriano na última jornada colocaria a equipa nesse posto. Porém, quase colado estava o Salgueiros, que jogava em Faro, e caso fizesse melhor resultado que o conjunto vitoriano ultrapassá-lo-ia na tabela, garantindo um apuramento europeu.

O jogo no D.Afonso Henriques seria uma espécie de concordata entre queridos inimigos. Uma pasmaceira entrecortada pelo bracarense Karoglan ter atirado uma bola ao poste de baliza aberta e o Vitória não ter-se lançado sobre o adversário como tantas vezes fizera. No final da partida, o empate a zero foi o resultado mais óbvio, o que fazia os bracarenses festejarem o apuramento europeu e os vitorianos ficarem de ouvidos colados em Faro, onde o Salgueiros também estava empatado, e que garantia o apuramento europeu aos Conquistadores.

Porém, no último minuto da partida do Algarve, o estádio vitoriano gelou... num tempo em que a maioria dos jogos não era merecedor de transmissão televisiva, dos transistores chegou célere a notícia: era grande penalidade em Faro, a favor do Salgueiros. Abílio, um especialista na marcação, podia colocar a equipa portuense nas provas europeias.

Porém... Marco Aurélio, guardião do Farense, faria a defesa mais importante da época vitoriana, garantindo que os salgueiristas não triunfassem. A 700 quilómetros, em Guimarães, festejou-se como se houvesse sido golo do Vitória... nunca um pacto de não agressão terá sido passível de causar a morte de uma das partes por causa de fogo terceiro, mas o Vitória sobrevivera, apurando-se para as provas europeias!



 

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