Era o jogo da temporada...
O Vitória, orientado por Jaime Pacheco, durante aquela temporada de 1996/97 fora incapaz de confirmar os bons indícios deixados na histórica eliminação do Parma nas competições europeias, logo no início da mesma.
Pelo contrário, houvera somado uma inenarrável série de seis jogos sem vencer, com cinco derrotas e um empate, que terão feito Pacheco "testar a paciência" de Pimenta Machado, ainda que, estranhamente, conseguindo segurar o lugar. Teria razão, o presidente vitoriano em não despedir o técnico, pois a equipa haveria de se recompor e com as contratações cirúrgicas do lateral belga Patrick Vervoot, do inesquecível médio sueco Fredrik Söderström e do avançado belga David Paas entrou na luta por nova qualificação europeia.
Uma luta que teria o seu apogeu na derradeira jornada frente ao eterno rival, SC Braga, orientado por Manuel Cajuda e, também, ele a perseguir esse objectivo europeu e posicionado no quarto posto da tabela, ainda que caso o Vitória triunfasse ultrapassaria os arsenalistas nesse lugar.
Porém o jogo do ano, como lhe chamou o Povo de Guimarães de 13 de Junho de 1997, tinha outras cambiantes quanto aos resultados, já que, a correr por fora, e a torcer pela derrota de um dos oponentes, estava o Salgueiros. Com efeito, os homens de Paranhos caso vencessem poderiam atingir a Europa, precisando, para isso, apenas, de fazer melhor resultado do que os Conquistadores. Ou seja, era matar ou morrer!
A alinhar com Neno; José Carlos, Alexandre, Vítor Silva, Quim Berto; Marco Freitas, Vítor Paneira, Fredrik; Capucho, Gilmar e Ricardo Lopes, os 10000 espectadores presentes puderam assistir a uma partida em que "o Vitória jogava ao ataque e o Sporting de Braga apareceu numa situação de defender (muito) e quase sempre bem". Assim iam esconjurando todas as iniciativas vitorianas e quando, assim não foi, apareceram os "erros de António Rola a estragar os planos dos vitorianos, porque aos 30 minutos esqueceu-se de marcar um penalty por carga sobre Fredrik Söderström e disciplinarmente foi permitindo faltas grosseiras dos bracarenses sem o prémio (cartão amarelo) justo, autorizando toda a espécie de anti-jogo." Entretanto, do Algarve, chegavam informações que o Salgueiros houvera-se adiantado no marcador, pelo que o Vitória estava fora das competições europeias!
A segunda metade seria tirada a papel químico da primeira, pois, como é referido na crónica jornalística citada, "tudo isto voltou a acontecer, com dose mais elevada, durante a segunda parte." Porém, verdade seja dita, com mais nervos, pelo menos até ao momento, em que o Farense empatou a sua partida contra o Salgueiros, desencadeando a alegria nas hostes vitorianas.
A partir daí, jogar-se-ia, exclusivamente, com os ouvidos no Algarve. Com atenção no desenrolar desse jogo e com a certeza que um erro no D.Afonso Henriques poderia ser fatal, ainda que aos 73 minutos da partida, o árbitro, António Rola, tenha escamoteado nova grande penalidade a favor do Vitória, novamente, por uma falta sobre Fredrik.
O jogo terminaria sem golos e os ouvidos colaram-se ao que faltava jogar na partida do Algarve. Na verdade, "depois começou o drama, porque através da rádio (...) apareceu um penalty favorável ao Salgueiros que obrigou a suster a respiração mas que afinal foi desperdiçado. Logo a seguir, os salgueiristas estoiraram com uma bola na barra e finalmente o jogo terminou e a festa vitoriana pôde realizar-se embora de forma quase tímida."
O Vitória conquistava novo apuramento europeu e, segundo o Povo de Guimarães, de 20 de Junho de 1997, surgiram "os abraços e felicitações entre os velhos rivais. A troca de "galhardetes entre os dois clubes nos dias antecedentes ao jogo foi rapidamente esquecido e até pareciam amigos de longa data." Graças a um milagre ocorrido a 700 quilómetros de distância...