O Vitória fora a equipa sensação na primeira metade da temporada de 1989/90. Com efeito, os Conquistadores orientados por Paulo Autuori estiveram sem perder mais de uma volta no Campeonato, já que depois de terem sido desfeiteados na primeira jornada da prova em Alvalade, só voltariam a conhecer o sabor da derrota na segunda da segunda volta, em casa do Benfica.
Seria o sinal de uma quebra, que faria com que a equipa tivesse de se contentar com o quarto posto da tabela, quando, durante grande parte do campeonato, se alvitrou que pudesse aspirar aos mais altos voos. Porém, para além do decréscimo de forma física, algumas arbitragens e algumas decisões de corredor levaram a que o Vitória resvalasse para o quarto posto, o que soube a pouco, atendendo ao que fora prometido durante quase todo o campeonato.
A comprovar esta asserção, deveremos narrar os factos ocorridos em Santo Tirso, onde os Conquistadores chegavam com a esperança na confirmação de uma retoma, que o "banho de bola" dado ao eterno rival, SC Braga, no seu 1º de Maio, consubstanciado no triunfo por três bolas a uma e a subsequente goleada ao Feirense fundamentavam. A acompanhá-los, como sempre, uma verdadeira multidão que conseguiu fazer com que a fila na Estrada Nacional se estendesse desde o centro da cidade de Santo Tirso até Rebordões.
Nesse dia, perante os "Jesuítas" e a alinhar com Sérgio; Germano, William, Bené; Nando, N'Dinga, Soeiro, João Baptista, Roldão; Caio Júnior e Chiquinho, o Vitória viu-se com dificuldades em chegar ao golo que desbloqueasse a partida, ainda que a dominasse completamente.
O desejado tento só haveria de surgir já no tempo de compensação da segunda metade, de um modo sua-generis. Assim, houve um cruzamento para a área, Soeiro e Artur Jorge, que houvera entrado em campo, isolam-se, chocam um com o outro, para, de seguida, o médio defensivo, ainda que de modo atabalhoado, cabecear para as redes de Lúcio, perante o gáudio da multidão de vitorianos que empreendera a curta viagem até Santo Tirso.
Do lado do fiscal de linha que acompanhava o ataque vitoriano, nem uma reacção. A bandeira continuava junto ao corpo, pelo que o golo parecia ser legal. Porém, tal opinião não haveria de ser confirmada pelo árbitro, Pinto Correia, que, sem que ninguém percebesse a razão, anularia o golo. Uma decisão tão inusitada, que deixou os adeptos vitorianos sem perceberem se existiam razões para protestar e, ainda para mais, o árbitro auxiliar que acompanhava o ataque dos Conquistadores e que se encontrava do lado dos adeptos do clube do Rei houvera validado o tento.
O jogo terminaria assim, o Vitória perdia dois pontos, mas a bomba só explodiria dois dias depois! O clube vitoriano era notificado que o seu estádio estava interditado pelos incidentes do Domingo anterior, ainda que ninguém conseguisse descortinar o que tinha realmente sucedido. Vir-se-ia a saber que fora arremessada uma lata de cerveja contra o bandeirinha - que recorde-se, havia validado o golo -, sendo que nem sequer se averiguou se o "projéctil" houvera sido disparado até por uma adepto do clube da casa.
O Vitória perdera dois pontos, atrasara-se no sonho de ocupar um lugar do pódio no final da tabela e, ainda, teria de receber o rival Boavista a, pelo menos, 100 quilómetros de sua casa... seria em Lamego, depois de ter sido alvitrada a hipótese da equipa actuar em Águeda, mas isso já será matéria para outra história!