O EMPREGADO DE ESCRITÓRIO QUE ENTROU NA HISTÓRIA...

Lembremos Paredes... um dos primeiros homens a merecer o lugar na eternidade vitoriana.

Vimaranense de gema, nascido em 1914, tornar-se-ia empregado de escritório, mas sempre com o futebol no coração. Um amor tão grande que o fez integrar os quadros do Vitória mal pôde, depois de ter representado o Académico do Liceu de Guimarães.

Sob a orientação do treinador, Istvan Puskas, viveu a sua coroa de glória a 25 de Março de 1934. Na decisão do campeonato distrital, frente ao Braga, numa final a duas mãos, seria o herói. Num jogo equilibrado e apaixonante como todos os derby's devem ser, a grande explosão de alegria ocorreu, apenas, aos 87 minutos, quando o herói destas linhas colocou a bola que, também, ilustra estas linhas, nas redes adversárias.

Na revista Stadium de 04 de Abril de 1934, escrevia-se que "Realizou-se, perante uma assistência computada em 4000 adeptos a primeira final do campionato do distrito de Braga, entre o Vitória Sport Club e o Sporting Club de Braga. O resultado de 1 a 0 a favor do Vitória, não traduz com veracidade o desenrolar do encontro, que o Vitória dominou abertamente."

Seguia-se a sua mão em Braga, cujo trabalho de moralização dos valorosos atletas vitorianos começou antes do jogo. Bastará citar um parágrafo de um artigo do Notícias de Guimarães de 08 de Abril que rezava assim: “Rapazes: Na luta heróica que hoje ides travar, na rude prova que ides ser sujeitos, antes dela e durante ela, não esqueçais esta palavra sacrossanta: GUIMARÃIS. Recordando-a, lutareis com mais fé e galhardia!"

Com muito sofrimento, o golo de Paredes valeria o título, já que a equipa conseguiu segurar o nulo inicial, sagrando-se campeã distrital pela primeira vez. Segundo o Primeiro de Janeiro de 10 de Abril de 1934, "logo que se soube do triunfo obtido pelo Vitória, notava-se em todos os vimaranenses um entusiasmo louco. A população citadina, em grande massa, apresentou-se no Proposto, aguardando com indescritível alegria, a direcção e os briosos jogadores do Vitória.

Às 19 horas, principiaram a chegar àquele local alguns dos automóveis com vimaranenses que para a visinha (sic) cidade tinham ido, a fim de apreciarem o importante desafio. Eram assaltados os carros pela massa compacta do povo, que, empunhando bandeirinhas do Vitória, saudavam essas pessoas com intenso entusiasmo...

Pouco depois das 20 horas, chegam as camionetas, seguidas de uma extensa fila de automóveis. Eram os vitoriosos, a direcção e muitíssimas pessoas que foram assistir ao interessante desafio. Girandolas, duas bandas de música e os sinos do campanário da Basílica de São Pedro, executando o hino da Cidade, anunciavam a chegada dos gloriosos jogadores, atraindo, assim, ao local do Proposto, ainda mais gente do que a que ali se encontrava."

Deixemos, agora, alguns curiosos aspectos sobre o jogo, retirados da obra Ficheiros Desportivos, do vimaranense e vitoriano Manuel Magalhães:

“- Em São João de Ponte e Caneiros, os seus habitantes receberam, festivamente, os jogadores do Vitória;

- Durante a tarde do jogo, numa altura em que não existiam transmissões televisivas ou sequer radiofónicas, foram afixados placares no Café Oriental, elucidando o público sobre o desenrolar do jogo;

- Muitas senhoras da cidade telefonavam, de modo reiterado, para o Café Oriental, para saberem do resultado do jogo;

- As janelas dos prédios, à chegada do jogador, estavam repletas de senhoras para saudarem os jogadores;

- As bandas de Música da cidade saudaram o Vitória;

- Mereceu elogio o comissário da PSP de Braga, Tenente Gaspar Figueiredo, que garantiu a segurança da equipa e dos adeptos que se deslocaram à cidade vizinha.”

Por fim, anunciemos o número de adeptos que se deslocaram à cidade vizinha e que deverão orgulhar qualquer vitoriano, por estarmos a narrar factos com quase 90 anos. Assim, de Guimarães rumo a Braga partiram 16 camionetas e 50 automóveis. Ora, se em cada camioneta viajassem 50 pessoas e cada viatura contasse com 4 passageiros, estaremos a falar de cerca de 1000 vitorianos que acompanharam a equipa. EXTRAORDINÁRIO!

Quanto a Paredes, apesar de ainda ser um jovem, decidiu abandonar o futebol no ano seguinte, com, apenas, 21 anos de idade. Porém, com a certeza que tinha o seu nome debruado a letras de ouro na eternidade vitoriana... e é justo que assim seja!

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