Estávamos no início do ano 2000. O Vitória entrava em período eleitoral e Pimenta Machado ia ter concorrência de peso. José Arantes, seu antigo vice-presidente, responsável por várias obras no clube, incompatibilizara-se com este. Na verdade, na Assembleia-Geral que decorreu no estádio, em 1999, Pimenta minimizara-lhe o trabalho, ao dizer que o mérito das obras era todo seu, enquanto Arantes só tinha feito uns rabiscos. Ganhou inimigo para a vida! Um opositor que, nesse momento, terá jurado fazer-lhe frente nas eleições seguintes.
E, assim foi...
O novo ano trouxe o acto eleitoral e Arantes como candidato com o sugestivo lema de "devolver o clube à cidade e aos sócios e, longe vão os tempos, afirmando que o patamar dos apuramentos europeus eram reduzidos para tamanha ambição, pelo que o clube devia sonhar mais alto.
Pimenta, esse, apostou em jogadores e lançou a cartada da SAD.
Quanto a jogadores, apostava na contratação a título definitivo de Evando, que já tinha estado no plantel a título de empréstimo e do médio Preto Casagrande, que destacou-se por um extraordinário golo ao Boavista. No que toca à SAD, apresentou um projecto que defendia que o Vitória ficasse com 40% do pacote acionário, subscrevendo títulos no valor de 1,2 milhões de contos (6 milhões de euros na moeda atual) e a autarquia com 10% que representavam 300 mil contos (1,5 milhões de euros).
Num período eleitoral abrasador, destaque para o debate televisivo entre os contendores, onde Arantes mandou calar Pimenta, ao que este advertiu que o pretendente ao trono não o mandava calar. Porém, dizia agradar-lhe existir oposição, pois " curvo-me perante a audácia, por exemplo, do Eduardo Fernandes que foi o meu último adversário, e agora até estava meio adormecido. Mas fico aborrecido por só agora me acusar de falta de transparência. Você foi empurrado, não está de coração aberto e agora mudou o discurso". Rebatia, ainda, as acusações que o imputavam de ser "dono" do clube, com Pimenta a confirmar ser credor do clube em 72000 contos.
O nome de Belmiro Jordão, também, andou na berlinda. Arantes revelou, assim, que Pimenta Machado fez uma abordagem junto deste sobre a possibilidade de ser formada uma lista de consenso, mas o presidente que procurava ser reeleito negou:
"Encontrei-o no notário e perguntei-lhe o seguinte: ó Belmiro então você conhece-me e anda nisto?", Arantes interrompeu e procurou elucidar Pimenta Machado: "Está a ver, até os seus amigos acham que está na hora de mudar."
Porém, no dia do escrutínio, Pimenta voltaria a ser reeleito com 63,2% dos votos e reafirmou o desejo de reactivar os contactos com instituições bancárias para constituir a SAD, que tinha ficado em banho-maria pelas eleições... nunca veria a luz do dia, pelo menos com ele e iria aparecer no universo vitoriano, provavelmente, o mais feroz opositor ao pimentismo. Um jovem de nome Domingos Miranda, mas isso será tema para outra história.