O AUTOCARRO SEM MANIFESTANTES RUMO À VITÓRIA, NO MEIO DA REVOLUÇÃO

A época de 1974/75 tinha começado em grande estilo.

Em pleno fulgor revolucionário, a equipa orientada por Mário Wilson, depois de uma boa carreira na Taça Intertoto, começara de modo bastante satisfatório o campeonato, ainda que a derrota na CUF à segunda jornada gelasse um pouco os ímpetos.

Contudo, a equipa orientada por Mário Wilson soube recompor-se e chegar à quinta jornada, altura em que se deslocava a Alvalade para enfrentar o Sporting, com quatro êxitos e a tal derrota no Barreiro.

Porém este jogo teria uma curiosa história.

Estávamos a 28 de Setembro de 1974. Depois do Presidente da República, António Spínola, ter manifestado a intenção de resolver a questão da guerra ultramarina através da via federalismo com criação de estados autónomos, indignou-se o Movimento das Forças Armadas e o PCP. Por isso, convocou-se manifestação para suportar os intentos do líder máximo do país.

Gerou-se, por isso um burburinho de dimensões difíceis de quantificar. A esquerda, procurando evitar a entrada dos manifestantes levantou barricadas. Dizia buscar a apreensão de armas, mas pretendia repelir quem quisesse mostrar o seu apoio a Spínola.

No dia do jogo, logo pela manhã, a bomba explodiu. Cinquenta e um autocarros estavam a aprestar-se para rumar a Lisboa. Um número inusitadamente estranho, pois, segundo, os entendidos o normal era nunca passarem de cinco.

Por se temer que fosse uma armadilha, os motoristas consideraram-se todos em greve, sobrando, apenas, um: o que deveria conduzir o Vitória a Lisboa para defrontar o Sporting e que só pôde deixar a Cidade Berço, após ter sido confirmado que lá, apenas, se encontravam jogadores e elementos da estrutura devidamente acreditados e não elementos dispostos a manifestarem-se pelas ruas da capital.

Chegados a Alvalade, assistiu-se a futebol do mais fino quilate. A alinhar com Sousa; Ramalho, Rui Rodrigues, Torres, Osvaldinho; Custódio Pinto, Abreu, Pedrinho; Tito, Romeu e Jeremias, o Vitória "actuou de tal maneira bem, que emudeceu de espanto e de encanto todos os fans dos leões." Assim, os golos de Jeremias, Romeu e de Custódio Pinto selaram um triunfo por três bolas a duas, numa partida que teve um início de expedição atribulado e inesperado... mas, a época haveria de continuar de vento em popa!

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