Aquela temporada de 2002/03 desencadeava todas as paixões.
O Vitória, a jogar em Felgueiras, aliava a beleza à eficácia, os golos aos triunfos e lutava pelos lugares cimeiros da tabela.
Assim, se chegou a um dos primeiros jogos do ano de 2003, frente ao Benfica, num desafio tido como decisivo para a conquista do segundo lugar, que, por essa altura, era objectivo de ambas as equipas.
Num desafio frenético e equilibrado, o Vitória a alinhar com Palatsi; Ricardo Silva, Cléber, Rogério Matias; Bessa, Rui Ferreira, Pedro Mendes, Nuno Assis, Djurdjevic; Fangueiro e Romeu, adiantou-se no marcador com um golo de Bessa, logo no início da segunda metade.
Animaram-se os adeptos, ainda que o antigo vitoriano Zahovic empatasse a contenda quase de imediato.
Passados dois minutos, o pânico. Um petardo lançado da bancada onde estavam os adeptos encarnados, mais especificamente a claque No Name Boys, deflagrou junto dos jogadores do Vitória que realizavam exercícios de aquecimento. Como consequência do sucedido, o brasileiro Marcinho, que se aprestava para entrar em campo para substituir Djurdjevic, ficou imediatamente estatelado no relvado. Queixava-se dos ouvidos, como consequência do rebentamento, bem de queimaduras sofridas no cotovelo e tornozelo esquerdo, sendo de imediato assistido. Além deste, o preparador físico vitoriano, Jorge Ramiro, sofreu um abalo nos tímpanos, ficando tonto.
Os dois feridos foram conduzidos ao Hospital Nossa Senhora da Oliveira, sendo que o jogador dizia que só se lembrava de "ouvir a bomba a rebentar" e não ver "mais nada". Sentiu o pé e o cotovelo esquerdo "a arder", por estar "em carne viva". Quanto ao preparador físico, uma hora depois do sucedido, ainda não tinha recuperado a audição.
Imediatamante, a GNIR interveio, detendo dois adeptos encarnados, por não ter a certeza qual deles houvera sido o autor do ilícito, enquanto as bancadas estavam em completa ebulição. De parte a parte, arrancaram-se cadeiras para serem arremessadas, tendo um guarda sido atingido com uma na face.
O jogo, esse, depois de interrompido, seria reatado, tendo terminado empatado a um. Como consequência do sucedido, o Vitória viu o estádio Dr. Machado de Matos, sua casa nesse ano, interditado por um jogo, tal como o Benfica. Além disso, a Comissão Disciplinar da Liga resolveu instaurar processos ao presidente Pimenta Machado e ao treinador Augusto Inácio por declarações consideradas desestabilizadoras e intimidarias na semana que antecedeu o jogo, O Vitória foi, ainda, condenado a pagar uma multa de 1000 euros, sendo 600 pelos microfones do recinto terem incitado a equipa depois dos incidentes. O restante valor foi por não ter disponibilizada a utilização de um camarote à comitiva do Benfica que, por isso, anunciou o corte de relações com o Vitória. Na sua comunicação oficial, diria que "É absolutamente inqualificável o modo como os dirigentes do Benfica foram recebidos e tratados em Felgueiras, sem que nenhum dirigente do Vitória SC se apresentasse na qualidade de anfitrião, quer à chegada quer à partida. De uma forma indigna, aos dirigentes do Benfica foi reservado um camarote lateral sem as menores condições de segurança, de modo a que a comitiva oficial do Benfica fosse um alvo fácil e indefeso de insultos e agressões”.
Porém, a Comissão Disciplinar da Liga foi mais longe, anunciando que o Vitória iria ser responsabilizado pelo arremesso de objectos para o campo, o que colocou em perigo adeptos, árbitros e agentes de autoridade. Além disso, o Benfica seria punido pelo lançamento do petardo.
No meio da guerra das palavras, destaque para a atitude de Marcinho que, ao invés de querer processar o adepto que lhe colocara a vida em risco, optou por referir que "Na altura passaram muitas coisas pela minha cabeça e a minha sorte foi ter três camisolas vestidas. Imagine-se que a bomba me atingia em cheio. No entanto, não pretendo nem vou agir contra o agressor. Eu não conheço o rapaz e tenho a certeza que ele não queria atingir ninguém propositadamente. Não faz qualquer sentido incriminar o rapaz.”
Mas, podia ter sido uma tragédia...