JOSÉ MORAIS E A ASSEMBLEIA DA EXCOMUNHÃO CLERICAL...

Falemos de José Morais. Tratava-se de um médio ofensivo brasileiro, contratado ao Sport Recife. Médio ofensivo de extraordinários recursos, foi o municiador principal do goleador Djalma. Na fotografia, que aqui apresentamos, encontra-se ao meio, entre o mesmo Djalma e o extremo Vieira.

Seria, pois, uma das razões para a bela temporada vitoriana, em que os comandados pelo francês Jean Luciano terminaram no quarto posto. Peça inamovível do onze vitoriano, apontou dois golos, mas muitos mais deu a marcar, numa clara confirmação que o Vitória voltara a acertar no atleta brasileiro contratado.

Por essa razão, tornou-se cobiçado por outros emblemas, ainda que o Vitória teimasse em fazer finca-pé em perder o jogador.

Todavia, de um dia para o outro a bomba estourou: foi apresentado como jogador do Sporting, com os responsáveis vitorianos a alegarem a existência de várias irregularidades cometidas pelos Leões, em especial pelo seu dirigente, Abraham Sorin. Na verdade, Sorin, engenhosamente, tinha feito o jogador passar uma parte da época no Brasil, em outro clube, o que lhe permitiu activar uma cláusula especial do seu contrato, que lhe possibilitava regressar a Portugal sem o Vitória receber qualquer compensação monetária.

Imediatamente, os responsáveis vitorianos instauraram um processo na Federação Portuguesa de Futebol, que, como é bom de ver, deu em nada. A inscrição de Morais no Sporting foi aceite e os sportinguistas ludibriaram os Conquistadores, num expediente lamentável.

A indignação fez com que fosse marcada uma assembleia-geral extraordinária no Teatro Jordão, onde foi deliberado o corte de relações com o clube de Alvalade, sendo que os responsáveis vitorianos reforçaram a existência de “uma fraude e simulação que se cometeu na inscrição pelo Sporting, do aludido jogador, na medida em que este, no contrato que celebrara com o Vitória, se vinculou às condições dos jogadores portugueses, havendo que considerar como cláusula especial a eventualidade de regressar ao Brasil, condição que não pode considerar-se cumprida, no entender dos dirigentes vimaranenses, com uma viagem àquele país para uma breve estadia.”

No auge do clamor popular, destaque para a intervenção do Padre António Guimarães, que entusiasmado pelo ambiente que se vivia, declarou excomungar Sorin. Valerá a pena transcrever uma parte da intervenção do clérigo: “– Para certos elementos da Federação e certos cavalheiros (que não merecem este termo) de alguns clubes grandes e grandes nas dívidas, como dizia um finalista da Universidade de Coimbra, essa palavra consciência é palavra morta. A esses, dias tristes os esperam. O remorso liquidá-lo-á.”

Citemos, também, o relato do cronista E.S., no Comércio de Guimarães, sob o título, “Onde Estás, Ò Justiça?...”, “Guimarães esteve em peso no Teatro Jordão. Uma só paixão: o Vitória! Um só intento: repudiar a afronta! Um só apelo: Justiça! Uma preocupação transcendente: Moral!”

Não obstante o ardor colocado em todas as intervenções, nem isso foi suficiente para reverter a situação e a única consequência deste imbróglio passou pelos assobios que o jogador haveria de receber quando teve de jogar frente ao Vitória.

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