COMO O PADRE ANTÓNIO ENTROU NA HISTÓRIA POR USAR A FÉ EM SERVIÇO DO SEU VITORIANISMO...E POR EXCOMUNGAR UM DIRIGENTE DO SPORTING!

Membros do clero vitorianos dos sete costados sempre existirão e existirão. Presentemente, bastará lembrar o Padre Antunes, que foi inclusivamente Presidente da Assembleia-Geral no mandato de Miguel Pinto Lisboa, ou o Padre Guilherme, o Padre DJ que acordou os peregrinos nas Jornadas Mundiais da Juventude.

Mas na década de 60 do século passado um membro do clero entrou para a história, pelo acto mais radical da igreja católica: o da excomunhão, que mais não é do que uma fo orma de censura eclesiástica pela qual uma pessoa é excluída da comunhão dos crentes, dos ritos ou sacramentos de uma igreja e dos direitos de filiação à igreja.

Falemos, pois, do Padre António, uma figura marcante de Guimarães de meados do século XX. Um homem de profunda fé, mas, acima de tudo, também, ele débil às tentações humanas, em especial à comida e ao futebol, leia-se aqui ao Vitória, o seu grande amor,

Raramente terá falhado uma partida no Benlhevai e depois na Amorosa. Como escreve Miguel do Sul, pseudónimo de António Capela Miguel, no seu artigo no Caderno 5 de Osmusiké, "Em domingos de futebol do Vitorinha, lá estava ele de umbrela na mão, nervoso a chamar medroso ao árbitro ou valha-me nossa senhora ao jogador Rola, Caiçara ou Edmur, quando falhavam a baliza porque a bola não queria ir lá para dentro".

Apesar disso, não tolerava impropérios e palavrões, sempre tão normais, em jeito de interjeicção, numa partida de futebol. Repreendia de imediato o autor de tais "pecadilhos", ainda que com o decorrer do jogo, o nervosismo tomasse conta de si e acabasse a pedir a quem antes condenara: "Pois, chama-lhe tu, c***', filho da p***, panel**** e cabr** que eu não posso!! Logo vens ter comigo e serão todos perdoados!"

A maior prova de vitorianismo do Padre António terá ocorrido a 23 de Outubro de 1966. Com os adeptos em polvorosa, pelo estratagema levado a cabo pelo Sporting e que tirou o brasileiro José Morais dos Conquistadores, realizou-se uma Assembleia-Geral no Teatro Jordão para discutir as medidas a tomar contra o clube leonino. Assim, enquanto alguns sócios avançavam com a hipótese do corte de relações, outros defendiam exposições aos órgãos federativos, chegara a vez do Padre se pronunciar. Deste modo, subiu ao palco e, em vez de fazer um longo discurso, com a ajuda do seu acólito, procedeu ao ritual de excomunhão de Abraham Sorin, o director sportinguista que houvera arquitectado o plano para ficar com o talentoso atleta.

No final, perante a estupefacção dos presentes, diria: "- Cada um usa a fé, conforme aquilo em que acredita". Neste caso, era simplesmente o enorme e único amor ao Vitória...

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