GUIMARÃES QUASE A PERTENCER AO PORTO!

Falar da rivalidade entre Vitória e Braga será falar da face mais visível de duas cidades que procuram superiorizar-se em todos os quadrantes.... sendo o futebol, o meio mais fácil e popular para atingir essa exaltação.

Contudo, o maior conflito entre as duas cidades terá existido, ainda nem sequer o Vitória e o eterno rival existiam...ou, como o povo costuma dizer, nem sequer eram projecto.

Estávamos em 1886. Guimarães queixava-se de ter um reduzido retorno dos impostos que ia pagando (cerca de um sétimo do montante total) e acusava a cidade vizinha de se apropriar desses montantes para proveito e usos próprios. Além disso, o Berço de Portugal reclamava que quando pretendia qualquer melhoria na urbe eram sempre levantados inesperados e inultrapassáveis obstáculos.

Assim, nesse ano, numa exposição ao Parlamento, os representantes da Câmara afirmavam que "A Junta Geral de Braga lhe absorve dois terços da sua derrama municipal com uma quota superior ao dobro da distribuída proporcionalmente aos concelhos do Porto e que, por isso, ficamos sem recursos para ocorrermos às necessidades concelhias..." Estas preocupações seriam agravadas pela conclusão da estrada distrital nº6 que ligava Amares a Refojos de Basto, quando a cidade vimaranense era o principal ponto de passagem. Assim muitos carros que antes passavam por Guimarães com destino ao Porto e provenientes de Chaves, Ribeira de Pena, Cabeceiras, entre outros destinos, começaram usar esta via com prejuízo para Guimarães. Braga, assim, absorveu a riqueza que era gerada na cidade Berço.

Por essa razão, a 18 de Novembro desse ano, um texto jornalístico com o título de "Alerta", acusando Braga de ser "A ENORME SANGUESSUGA DO CONCELHO DE GUIMARÃES".

Com os vimaranenses indignados contra os vizinhos, o mal-estar atingiria níveis inauditos com a tentativa de agressão perpetrada contra os procuradores de Guimarães à Junta-Geral Distrital, conjugados com inevitáveis insultos. Tinham estes como missão a discussão do orçamento, e ainda que os representantes vimaranenses tenham-no aprovado, colocaram reservas sobre o modo de financiamento e introdução de algumas cadeiras científicas no Liceu de Braga, bem como impugnaram algumas verbas tidas como escandalosas que surgiram e, ainda, uma acta que não estava de acordo com os factos que se tinham passado.

Imediatamente, foram apontados à multidão como hostis a Braga, o que originou insultos como "morras e estes e à nossa cidade, muitas e repetidas vezes, por entre as pedras que batiam na carruagem em que vinham os nossos representantes." Esta atitude durou sete horas, com a conivência das autoridades, pasme-se!

Tal, quando foi sabido em Guimarães, originou comícios, manifestações, além de ter sido enviada uma delegação ao Rei que defendia que o concelho vimaranense não podia continuar a pertencer ao distrito de Braga. Defendia-se as ligações ao Porto. pedindo-se que "haja por bem fazer às cortes geraes seja presente um projecto de lei que desmembre o concelho de Guimarães do districto de Braga e o anexe ao districto do Porto."

Mais do que isso, a Câmara Municipal em sessão realizada a 30 de Novembro de 1895 deliberou que, enquanto não fossem dadas ao município satisfações, cortar relações com o Governador-Civil distrital e demais autoridades.

Em Braga, contudo, houve reacção. Com efeito, depois de terem desvalorizado a atitude vimaranense, haveriam de manifestarem-se, em comício, contra os desígnios vimaranenses de abandonarem o distrito.

A questão haveria de ser resolvida pelo Partido Progressista, que substituíra o Partido Regenerador no poder, e que prometeu "em reforma geral, conceder a Guimarães, como concelho d'egual importância, autonomia económica."

E, assim antes de existirem Vitória e SC Braga, Guimarães batia o pé à eterna rival...

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