Aquela época de 1987/88 não estava a correr do modo como correra a anterior.
René Simões houvera sido uma desilusão, saindo em rota de colisão com Pimenta Machado e com o director do futebol profissional, António Mendes. Para o substituir, a escolha recaiu em António Oliveira, ainda a viver os louros de uma extraordinária, ainda que irreverente, carreira de futebolista.
Com Oliveira, as coisas não melhoraram... bem pelo contrário. Porém, verdade seja dita, que os árbitros não ajudaram. Muitos lembrar-se-ão do famigerado jogo com o Boavista, conhecido pelo "circo de Alfredo" que ainda aqui haveremos de aflorar, mas a verdade é que a indignação vitoriana foi despoletada pelo sucedido três semanas antes, a 10 de Janeiro de 1988, numa contenda contra o Benfica.
Com efeito, o jogo arbitrado pelo juiz algarvio Francisco Silva, sempre pronto a prejudicar o Vitória e que acabou irradiado do futebol português por causa do caso "Penafielgate" em 1990, foi tudo menos pacífico.
Assim, apesar dos dois golos apontados pelos encarnados, a verdade é que na hora do aperto encarnado, o árbitro foi o garante do triunfo benfiquista. Assim, resolveu anular um golo a Ademir Alcântara, sem razão aparente, descortinando uma falta que ninguém viu. Posteriormente, com a equipa vitoriana a dar tudo para reduzir diferenças, faria vista grossa a uma grande penalidade sofrida por Adão.
Foi o suficiente para o rastilho ser despoletado. Os adeptos manifestaram-se de modo vigoroso contra o árbitro, atento o modo como desequilibrou a balança. De imediato, a imprensa desportiva fez o que sempre tem feito. De modo hipócrita e púdico, apressou-se a condenar os adeptos do Vitória. Assim, na Gazeta dos Desportos, chamava-se aos adeptos do Vitória de "hooligans", na altura em que estes estavam em voga, chegando ao ponto de aludir a uma suposta agressão ao fiscal de linha, o que se comprovou ser falso. Tal era seguido pelo jornal A Bola, que, ainda, conseguia acrescentar que o juiz de linha sangrava.
Pior do que isso, o próprio árbitro, Francisco Silva, sentiu-se no direito de vir para a comunicação social, defender a sua verdade- Assim, justificou o golo anulado por, supostamente, Caio Junior ter metido a mão à bola, algo que mais ninguém no estádio vislumbrou. Pior do que isso, diria que o futebol e o Vitória estariam de parabéns se o seu presidente, Pimenta Machado, optasse por deixar o futebol, já que tinha resolvido apagar um fogo com gasolina, quando criticou o seu trabalho.
Tais palavras causaram a suprema indignação nos órgãos sociais vitorianos que, de imediato, lavraram o seguinte comunicado:
" Face às declarações produzidas pelo árbitro Francisco Silva no Jornal - A Bola de 14/01/88, a Mesa da Assembleia Geral, o Conselho Fiscal e a Direcção do Vitória Sport Clube, tornam público o seguinte:
1 - Manifestar total solidariedade ao Dr. Pimenta Machado enquanto Presidente da Direcção do VSC e homem do futebol;
2 - Enaltecer toda a acção por si desenvolvida quer ao serviço do VSC quer de outras instâncias onde este clube se faz representar;
3 - Repudiar as afirmações de Francisco Silva quando refere que o futebol e o VSC estariam de parabéns se o Dr. Pimenta Machado decidisse retirar-se;
4 - Os órgãos do clube condenam esta ingerência de Francisco Silva nos assuntos internos do VSC e lamentam que o referido árbitro, useiro e vezeiro em criticar os dirigentes dos clubes, se não preocupe mais com a sua forma de actuar no âmbito da arbitragem nacional.
Guimarães, 20 de Janeiro de 1988
A MESA DA ASSEMBLEIA GERAL
O CONSELHO FISCAL
A DIRECÇÃO"
O resto da história será fácil de perceber...o Vitória seria tomado de ponta pelas arbitragens, sendo a actuação de Vítor Correia, no referido desafio com o Boavista, três semanas depois, o seu expoente máximo.
Porém, enquanto Pimenta, ainda, estaria mais 16 anos à frente do Vitória, o árbitro foi irradiado por ter aceite um suborno de dois mil contos do presidente do Penafiel, dois anos depois ... mas, ainda a tempo, de causar mais sérios problemas ao Vitória numa altercação com o treinador Paulo Autuori no Estádio das Antas. Mas, isso será para outras histórias...