Já aqui escrevemos que a temporada de 1999/2000 foi anunciada como um ano de ruptura. Um ano em que Quinito iria ter carta branca para apostar nos jovens vitorianos plenos de talento, como Fernando Meira, Rego, Pedro Mendes, Kipulo ou Lixa.
Porém, o projecto aos poucos foi-se esvaindo. Chegou-se a um ponto em que dos jovens, apenas, Meira era utilizado e Quinito foi entrando em rota de colisão com Pimenta, até acabar por apresentar a demissão, depois do presidente acusá-lo de "estar no Vitória a sacar dinheiro." Quase ao mesmo tempo, Meira rescindiu, sublinhando o que já se temia: aquele projecto durou, menos, do que o esperado.
Pimenta, esse, não perdeu tempo. Perscrutaria alguns nomes, entre eles José Romão, mas acabaria por escolher Paulo Autuori, que houvera sido adjunto de Marinho Peres na inesquecível temporada de 1986/87 e treinador principal na de 1989/90 e no início de 1990/91, e que tinha um insofismável cartel no Brasil. A confirmar essa aposta, Pimenta seria claro em dizer que o brasileiro seria o manager de todo o futebol do clube, enquanto o treinador na sua primeira entrevista ao Record de 06 de Maio de 2000, logo após o adeus de Quinito, disse que "Nesta primeira época vamos lutar para retomar o caminho das competições europeias. Ser campeão? Conheço a realidade do futebol português e tenho os pés bem assentes no chão. Espero construir uma equipa forte e competitiva para que gradualmente o Vitória possa diminuir a sua distância em relação àqueles que lutam pelo título de campeão. Planear é fácil, o mais difícil é saber lidar com realidades e grupos."
Assim, o Vitória sofreria uma completa revolução com a chegada de homens da confiança de Autuori como William (que fora determinante no quarto lugar da equipa 11 anos antes), Paulão, Maurílio, Manoel e Sérgio Júnior, num "abrasileiramento do clube", que perdeu referências como Pedro Espinha, Tito, Brandão, Riva, Edmilson para citar os mais relevantes. Uma remodelação completa, que na pré-temporada teve êxito com o Vitória a triunfar em todos os jogos que disputou, com especial destaque para o êxito perante o FC Porto, no jogo de apresentação aos sócios que foi disputado em Felgueiras pelo D. Afonso Henriques encontrar-se já em obras.
Contudo, o início do campeonato seria uma desilusão. O péssimo arranque vitoriano, ainda que com a complacência das arbitragens, encetado na derrota em Braga e prosseguindo na goleada sofrida em casa pelo Sporting desencadeou um processo de desconfiança em relação ao projeto gizado por Autuori. A confirmar isso, o Povo de Guimarães de 06 de Outubro de 2000, aquando do empate caseiro perante o Desportivo das Aves, num jogo em que o colombiano Edwin Congo se estreou com um golo, escreveu que "a euforia de criar uma equipa à base de jogadores oriundos das camadas jovens esfumou-se rapidamente e é uma enorme tristeza ver tanta estrangeirada entrar em campo com as cores vitorianas. Tudo estaria bem, ou pelo menos remediado se fossem elementos que fizessem a diferença, de qualidade superior, mas infelizmente o que se vê são jogadores que deixam muito a desejar. Os jovens portugueses só não têm lugar porque no futebol actual o dinheiro, os interesses, sobrepõe-se a todos os valores." Arrasador, no mínimo!
Tal, no fundo, acabaria por ser corroborado por Autuori na antecâmara da partida contra o Benfica de Mourinho no jornal Record de 17 de Novembro de 2000, quando disse: "Estou desapontado com a falta de atitude e não vejo motivos para que tal se esteja a verificar. Uma coisa é estar triste e outra é estar sem tesão para trabalhar". A tesão essa passaria rapidamente... ao ser goleado pelo Benfica de Mourinho por quatro bolas a zero, selaria o seu destino. Ainda, diria na conferência de rescaldo ao jogo, quando confrontado com o lugar em perigo, que "sinto é condições para viver. Eu preparo-me para viver a vida, estou sempre preparado para saber superar os momentos difíceis..." mas partiria logo de seguida.
Acabava assim um projecto que se esperava que durasse por muito tempo, sendo que no início da época seguinte a maioria dos jogadores escolhidos por Autuori já não levavam o Rei ao peito...um projecto infeliz que morreu ao nascer!