Estávamos na primeira jornada do campeonato de 1989/90.
Depois do malogro que fora a aposta em Geninho, com o jogador Nené, de modo interino, a ter de acabar a época antecedente, a aposta em Paulo Autuori foi o passo seguinte da direcção vitoriana liderada por Pimenta Machado.
O calendário, esse, reservava duas jornadas inaugurais escaldantes. Primeiro em Alvalade, depois em Guimarães, frente ao Benfica, num início de campeonato frenético e desafiador.
Em casa do Sporting, o Vitória a alinhar com Neno; Nando, Bené, William, Germano, Roldão; N'Dinga, René, João Baptista; Caio Júnior e Chiquinho deu, todavia, bela conta de si... tão boa que teria de ser o juiz proveniente de Santarém, Alder Dante, que era professor de profissão, a decidir a partida... roubando esses créditos ao bem-amado Paulinho Cascavel que, nessa altura, já militava no Sporting e que, inclusivamente, marcaria o primeiro golo dos leões.
Porém, antes disso, o Vitória adiantar-se-ia no marcador na recarga à cobrança de uma grande penalidade por João Baptista, ainda que como o Notícias de Guimarães escreveu em análise ao jogo "Alder Dante pensou duas vezes", antes de se decidir a apontar o castigo máximo.
A partida haveria de continuar apaixonante, equilibrada, com Paulinho a empatar antes do intervalo. Na segunda metade, o desafio continuaria apaixonante, vibrante e com um extraordinário Vitória a adiantar-se no marcador com um autogolo de Pedro Venâncio, pai de Frederico que, muitos anos depois, haveria de ser, inclusivamente, capitão dos Conquistadores. Porém, no minuto seguinte, Valtinho reporia a igualdade, funcionado este golo quase como o toque de entrada do juiz da partida para decidir o jogo.
Assim, "entretanto, começa Alder Dante a fazer o seu papel e perdoa um penalty ao Sporting quando Chiquinho se vê agarrado. Já na primeira parte, N´Dinga é rasteirado, mas como parece ser dentro da área, o Professor finge que não vê."
Percebeu-se, nesse momento, que "dois penalty's a favor do Vitória e logo em Alvalade eram demais, só podia ser contra os vitorianos. E não foi preciso esperar muito tempo."
Na verdade, nos derradeiros minutos da partida, "já quando toda a gente pensava abandonar o estádio e imaginando que o empate era lisonjeiro para os Leões, Alder Dante vê Marlon cair dentro da área e não hesitou apontando para a marca de penalty." Uma decisão inusitada que levou à revolta dos jogadores dos Conquistadores, levando a que "a cena dos protestos foi grande e Germano viu o cartão vermelho antes de Douglas fazer o golo."
Por isso, O título da crónica de jogo na citada publicação rezava que "PRECISA-SE DE ALDER DANTE PARA O SPORTING E DE UM PONTA DE LANÇA PARA O VITÓRIA", em alusão ao descarado empurrão dado pelo juiz aos leões e às inúmeras oportunidades de golo perdidas pelos avançados vitorianos.
No final, uma surpresa... contrariamente ao costume, Pimenta Machado não quis falar, por achar que "não vale a pena", algo que Autuori seguiu, preferindo salientar a bela prestação da equipa. O único vitoriano a dizer o que lhe ia na alma seria Gaspar Jordão, apesar de começar por expressar a sua indignação por referir que "Sem comentários! O lance do penalty é precedido de falta sobre o Silvinho que não foi assinalada. Estivemos sempre com o jogo na mão."
O Vitória começava o campeonato a perder de modo escandaloso, ainda que nesse ano só voltasse a conhecer esse sabor amargo uma volta depois, à segunda jornada da segunda volta na Luz... mas, se não fosse um professor de Santarém, jamais teria começado essa prova a ser desfeiteado!