Marinho Peres, durante anos, em Guimarães merecera o estatuto de D. Sebastião.
Com efeito, a sua partida no final da temporada de 1986/87 deixou os vitorianos quase como órfãos daquele homem que colocara a equipa a jogar um futebol espectacular e, acima de tudo, ombreara com grandes equipas europeias sem medos e com uma coragem superlativa.
Por isso, o seu nome sempre fora desejado. É verdade que o Vitória, na temporada de 1989/90, apostara no seu delfim e adjunto nesse ano inesquecível, Paulo Autuori, mas a verdade é que os vitorianos ansiavam por poder ter, novamente, "seu Marinho" ao leme.
Tal haveria de suceder no exercício de 1992/93, sendo o técnico brasileiro apresentado no último jogo no estádio do Vitória da temporada anterior... com João Alves, ainda, ao leme da equipa.
Na verdade, aquela temporada de 1991/92 começara a todo o gás. O Vitória andara nos lugares mais altos da tabela, jogava bem e convencia... porém, como tantas vezes tem sucedido na história Conquistadora, foi perdendo gás a ponto de ter a Europa em perigo e o treinador passar de incontestado a ter a permanência em risco.
Não seria, todavia, despedido, mas, facilmente, se percebeu que Pimenta Machado pretendia dar um novo rumo ao clube. Um rumo que, como o próprio referiu ao jornal A Bola "vou anunciar no intervalo do Vitória/Chaves, quem será o treinador do Vitória na próxima época." Tal seria confirmado aos microfones da Rádio Fundação, antes da partida ser encetada. Porém, existiam dúvidas de quem subiria com ele ao relvado, enquanto o, ainda, treinador João Alves estava no balneário com a equipa: se o sebastiânico Marinho Peres ou se o jovem e, na altura, prometedor José Romão e que, curiosamente, era o técnico do adversário dessa tarde.
Para a história ficou a equipa utilizada na despedida de João Alves dos adeptos vitorianos: Madureira; Jaime Alves, Taoufik, Frederico, Basílio; Paulo Bento, Quim Machado, N'Dinga, Caetano; Caio Júnior e Ziad e que tranquilamente triunfou por quatro bolas a zero frente aos flavienses naquele dia 10 de Maio de 1992.
Porém, mais do que o jogo ou até os golos, os momentos mais esperados ocorreriam, tal como prometido pelo presidente, fora do rectângulo de jogo. Como escreveu o Povo de Guimarães de 15 de Maio desse ano, "seriam 16.15, já o jogo decorria há cerca de um quarto de hora, quando chegou ao Camarote Presidencial o Presidente acompanhado de Marinho Peres. A possibilidade de visão dos outros sectores do Estádio para o Camarote Presidencial não é fácil, mas mesmo assim, quantos puderam ver a chegada, romperam em aplausos. O Presidente comentou, logo para Marinho: isto é para si. Estava desfeita a expectativa."
Depois disso, ao intervalo, Pimenta entraria no relvado com o treinador, mostrando-o a todo o estádio, que rejubilava com o regresso de um homem que, anos antes, fizera sonhar todos com títulos. "Foi, por isso, exactamente porque o escolhido foi Marinho que Pimenta Machado escolheu a fórmula inédita de anunciar o treinador no intervalo do último jogo da época em Guimarães. Fosse outro o escolhido e a fórmula seria diferente.", como escreveu a publicação já citada.
No final da partida, na sala de imprensa, dissolver-se-iam todas as polémicas que pudessem existir relativamente à inusitada apresentada. Como refere o jornal Notícias de Guimarães, o, ainda, treinador João Alves admitia que fora convidado a permanecer no Vitória, "mas já tinha a minha palavra dada ao Estrela da Amadora", enquanto Pimenta começou por adiantar o que já se sabia: "Marinho Peres é o técnico do Vitória para a próxima época." Concretizaria dizendo que "é um técnico desejado, não só pela massa associativa, mas também pela Direcção. Realmente, Marinho Peres soube estar no futebol, soube estar no Vitória, fê-lo com elegância e não havia razoara haver azedumes, pois nós vemos com satisfação o regresso de Marinho, ao seio da nossa colectividade. Marinho é um treinador de provas dadas, um treinador ganhador, pois fico contente e sobretudo esperançado que ele possa reeditar os êxitos da época de 86/87."
Não seria assim, mas isso já será outra história...