Existem várias teorias para o nascimento do futebol em Guimarães. Entre as mais plausíveis, como em muitas zonas da Europa onde a indústria têxtil pontifica, o futebol terá sido trazido por ingleses que aqui vinham tratar do ajustamento das máquinas e teares e mesmo negociar. Tal levou à criação de outros clubes em várias cidades, como, inclusivamente, o AC Milan. Aliás, uma das teorias para o nome escolhido remete-nos a essa influência inglesa, atento a em Inglaterra ter-se vivido o período vitoriano até 1901, altura em que a Rainha Vitória faleceu.
Ao escrevermos as linhas acima não pretendemos retirar da história o papel de António Macedo Guimarães, de Mariano Felgueiras e dos demais jovens que tiveram papel primordial na criação do clube. Porém, facto será que a inspiração para o clube germinar terá ocorrido como sucedeu em muitos pontos do Velho Continente, com a influência de quem vinha de fora.
Todavia, para além desses contactos encetados com cidadãos estrangeiros, também não será de enjeitar o papel do Regimento de Infantaria 20, que foi criado por Carta Régia a 05 de Novembro de 1884. Sediado na cidade vimaranense, estava instalado no Paço dos Duques de Bragança, com as suas dependências a chegarem até ao castelo, onde se encontrava o paiol das munições. Teve papel importante na I Guerra Mundial, ao ser mobilizado, após o ataque alemão em Naulila em 1914, para combater na frente africana.
Passados dois anos, já com a guerra propagada por todo o mundo, o Regimento dividiu-se em dois: o do Paço dos Duques e o do Quartel do Proposto. Aqui, se formaram, pela última vez, os mais de mil militares destacados para o combate. A pé, rumaram a Famalicão onde apanharam o comboio que os levou até Tancos. Como refere o Arquivo Municipal Alfredo Pimenta "Nessa tarde, em Guimarães, todas as fábricas e oficinas encerraram a sua laboração e os operários acorreram em massa para se despedirem dos militares. Várias pessoas dirigiram-se a Famalicão em veículos, autocarros e bicicletas."
Tendo chegado à Flandres em Junho de 1917, os jovens militares foram integrados na denominada Brigado do Minho, entrando nas trincheiras a 23 de Setembro, onde ficaram durante seis meses. Seria aí que viveriam a terrível Batalha de La Lys, onde os alemães massacraram as forças aliadas, gerando pesados baixas, inclusivamente no regimento vimaranense. Com efeito, de um total de 21 oficiais e 725 praças, morreram, nesse dia, 19 oficiais e 538 praças. Em 1917, o Regimento foi agraciado com a Cruz de Guerra de 1.ª Classe.
Com militares provenientes de vários pontos do país, terá sido normal que, alguns deles, já tivessem tido contacto com o futebol. Aliás, durante muito tempo, os treinos físicos do regimento incluíam práticas com a bola, na tentativa de imitar os jogos de futebol, ocorrendo diversos jogos entre soldados, sargentos e oficiais. Somos em crer que a ideia de criar um clube, também, aí terá conhecido algum incremento, fruto desses momentos e dos diferentes conhecimentos que cada um trazia em si inclusivamente da prática do jogo! Terão, acima de tudo, feito sentir a uma juventude vimaranense, que os jornais da época retratavam como amorfa, que era necessário afirmar-se, levar um projecto em diante e seguir as pisadas de outras cidades, em que os clubes para a prática desportiva começavam a florescer.
O RI20 seria dissolvido em 1927, por ter-se recusado em participar no Golpe de Estado do ano anterior, cuja caminhada começou na cidade vizinha de Braga. Acabava um regimento lendário e que, ainda hoje, merece ser lembrado na história vimaranense.