COMO O VITÓRIA FUGIU AO INFERNO, TENDO PARA ISSO QUE TOMAR MIL E UM CUIDADOS, NUM DIA QUE "FOI TUDO" PARA O PORTO!

Aquela temporada de 1957/58 era a terceira que o Vitória disputava na Segunda Divisão. Um inferno do qual urgia fugir a todo o transe.

Por isso, importava tomar todos os cuidados, ainda para mais quando a derrota caseira com o Sporting da Covilhã selou o destino do conjunto vitoriano: iria ter de disputar um playoff, na altura chamados de "Jogos de Competência", com o penúltimo classificado da Primeira Divisão, que seria o Salgueiros.

Por isso, no derradeiro jogo da segunda fase da Segunda Divisão, na Tapadinha, frente ao Atlético, o técnico Fernando Vaz optou por escalar uma equipa de segunda linha para poupar aqueles que iriam decidir quem na temporada subsequente iria actuar no principal escalão.

Desse modo, nesse dia 18 de Maio de 1958, foi uma equipa vitoriana completamente desfasada dos arquivos históricos, uma vez que entrou em campo sem oito titulares: Silva; Coelho, Abel; Abreu, Costa, Cesário; Augusto Silva, Cívico, Lutero, Daniel e Miranda. Para além de alguns atletas da equipa de reservas, Fernando Vaz aproveitou o desafio para, segundo o Notícias de Guimarães, "confirmar o valor de Augusto Silva, de Miranda e a capacidade de adaptação de Daniel. Mas trouxe também, ao de cima, a esperança de Coelho ou a durabilidade eterna de Costa, sempre pronto em sacrifício pelo seu querido Vitória." Assim, o empate a dois, com golos de Daniel serviria, apenas, para preparação para os grandes desafios frente ao Salgueiros.

Aliás, tal era reconhecido pelo treinador Fernando Vaz, que confessava que "o facto de não necessitarmos deste jogo, por já estarmos apurados (...) permitiu-nos fazer descansar a quase totalidade dos titulares."

Depois do jogo em Lisboa, a equipa viajou para o Porto de comboio, no, então, denominado "Foguete", que chegou à estação de São Bento antes da meia-noite. Aí, esperavam-nos carros vindos de Guimarães que, imediatamente, colocaram os jogadores junto dos oito titulares que não haviam viajado até Alcântara e à Tapadinha.

No dia seguinte, os titulares que tinham ficado em Guimarães treinaram, para, na Terça-feira, todos rumarem às Caldas das Taipas, vila onde os Conquistadores costumavam realizar os seus estágios, sendo acarinhados pelos muitos vitorianos que sempre existiram na localidade termal. Assim seria passada a semana entre treinos, banhos e massagens, antes do dia de descanso na véspera do jogo.

O jogo, esse, desencadearia enorme entusiasmo. Como o director Júlio Martins confidenciou ao jornal A Bola, de 24 de Maio de 1958, "Utilizar-se-ão todos os meios de transporte, desde os autocarros à bicicleta. Aqui em Guimarães não há um autocarro ou automóvel disponíveis, pelo que já sentimos a necessidade de recorrer às empresas de Braga e outras localidades limítrofes. É uma verdadeira loucura. Vai tudo ao Porto."

O resto seria história...no grande dia, com uma imensa mancha branca a preencher as bancadas, dois golos de Rola em Vidal Pinheiro lançariam o Vitória rumo ao regresso à Primeira Divisão, confirmado pelo empate a dois na Amorosa... a festa podia ser levada a cabo! Três anos depois e mil um cuidados após e sempre com o apoio daquele povo que jamais o abandonará, o Vitória estava de regresso à Primeira divisão...

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