A (INESQUECÍVEL) SUBIDA DO VITÓRIA À PRIMEIRA DIVISÃO... E COMO ISSO NOS REMETE A RUI VITÓRIA

Foram três anos de suplício...

Três anos em que o Vitória lutou para regressar ao principal escalão do futebol português. Morreria na praia, em duas ocasiões, dessas, para suspirar de alívio à terceira!

À terceira foi mesmo de vez, ainda que com inusitado sofrimento, o modo como os Conquistadores sempre gostaram de obter as suas conquistas. Aliás, a frase que melhor definirá estes cento e um anos de história, terá sido proferida por Rui Vitória, treinador do clube entre 2011 e 2015: "se não fosse difícil, não era para nós!" E isso poderia figurar como lema de um clube sempre habituado a ter de lutar muito para se afirmar como um dos maiores no panorama nacional!

Foi assim, na temporada de 1957/58, como, finalmente, se viu livre do pesadelo do escalão secundário. Depois do conjunto orientado por Fernando Vaz ter vencido a zona Norte da Segunda Divisão, tinha que vencer a zona de subida. Não o conseguiria, graças a uma arreliadora derrota em casa na Amorosa, frente ao SC Covilhã... mais uma velha tradição vitoriana de deitar verdadeiros baldes de água gelada nos momentos de maior euforia!

Por isso, era necessário um derradeiro esforço. Bater o Salgueiros, que houvera caído nos denominados jogos de passagem, por ter sido penúltimo classificado no campeonato da Primeira Divisão desse ano. Refira-se que, até à data, nunca nenhum clube a actuar no escalão secundário houvera conseguido ter êxito nesta espécie de play-off, caindo sempre aos pés do primodivisionário... ao contrário do que vem sucedendo, hoje em dia, que o terceiro classificado da Liga 2 tem conseguido sempre superiorizar-se ao décimo sexto posicionado da Primeira Liga.

Em Vidal Pinheiro, contudo, a surpresa tomou conta de todos os presentes. O conjunto vitoriano a fazer um jogo de grande nível, e graças ao bis de Rola, o herói da partida, venceria por duas bolas a uma! Um êxito tão retumbante, mas que não fazia o jogador embandeirar em arco, afirmando no Jornal da Bola de 29 de Maio de 1958 que "cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Os jogos sucedem-se como contas de um rosário e não há dois que sejam iguais. Só pode haver festa depois do jogo de Domingo, se triunfarmos ou empatarmos. Mas repito, os jogos sucedem-se sem nada se poder prever sobre o seu desfecho."

Seguia-se, pois, a partida decisiva na Amorosa. Nesse dia, a alinhar com Sebastião; Virgílio, Abel; Cesário, Silveira, João da Costa; Bártolo, Rola, Romeu, Cívico e Daniel, o primeiro grande momento de festa vitoriana ocorreria, logo, aos 20 minutos com o golo do argentino Cívico a dar a melhor resposta a um canto cobrado por Bártolo. Seria o sul-americano o grande herói da tarde, ao bisar, passados oitos minutos, beneficiando de um mau atraso de um jogador salgueirista para o guarda-redes Barrigana, aquele que estivera envolvido no conluio entre FC Porto e Boavista e que mandou o conjunto vitoriano para a segunda divisão.

Porém, o sofrimento, sempre ele, iria apoderar-se dos adeptos vitorianos. O Salgueiros haveria de reduzir distâncias ainda antes do intervalo, para a dez minutos do final empatar o jogo. Um golo manteria o conjunto portuense na Primeira Divisão, mas, segundo escreve A Bola de 02 de Junho de 1958, "as oportunidades de golo não foram tão frequentes neste período, quanto o haviam sido no anterior. Foi isso que salvou o empate e o Vitória. Mas a justiça do resultado não deve comprometer nem invalidar o mérito da promoção. O Vitória de Guimarães. ao fim e ao cabo, deu seguras indicações de ser a melhor das duas equipas em presença."

O herói Civico, segundo o jornal mencionado foi a imagem da equipa, já que "fora o obreiro-mor do esmagador domínio exercido pela sua equipa, bem pode ser tomado como espelho e modelo de tudo que se passou. Ele foi bem o próprio retrato da equipa. Vivo, fulgurante, demolidor nos primeiros 45 minutos; mortiço, cadente, exausto no tempo restante. De rosto aberto, alegre, confiante, sorrindo à estrela da vitória que iluminava o campo durante a primeira parte; com um ricto de sofrimento, de angústia, de pavor estampado na face, no segundo tempo. Tal Cívico, tal Vitória de Guimarães." e o sofrimento do êxito sempre a acompanhar o clube.

Fernando Vaz, o treinador, mostrava-se feliz mas tranquilo, ao dizer que "o Vitória mereceu ganhar o jogo e também demonstrou, na primeira parte, ser uma equipa capaz de, no próximo Campeonato Nacional, fazer boa figura. Talvez seja preciso recorrer ao concurso de alguns jogadores estranhos ao clube. Se continuar em Guimarães, farei todo o possível para a equipa não tenha de sofrer o pesadelo da baixa de divisão."

A festa iria prosseguir pela noite dentro... o Vitória estava de regresso ao seu habitat, ainda que com muito sofrimento. Lá está... se não fosse difícil não era para nós!

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