Aquela temporada de 1986/87 trazia com ela altas expectativas. Na verdade, depois do belo quarto lugar obtido na época anterior com António Morais ao leme, os Conquistadores regressavam às provas europeias, ainda que sob o comando de um novo treinador: o inesquecível Marinho Peres.
Porém, o sorteio da 1ª eliminatória da Taça UEFA, como tantas vezes tem ocorrido na história vitoriana, não foi generoso com o clube. Com efeito, a bolinha que ditou o acasalamento vitoriano trouxe dentro o nome do Sparta de Praga, uma das mais fortes equipas do Leste europeu, numa altura em que a Cortina de Ferro ainda ditava leis.
Viajou a comitiva Conquistadora liderada por António Pimenta Machado rumo à bela capital da, então, Checoslováquia, para à sua chegada ser, de imediato, presenteada, como lhe chamou o jornal do Vitória da data, por "uma esmerada recepção."
Com efeito, depois dos responsáveis do Vitória terem sido recebidos num bar de um hotel escolhido para o efeito onde se tomaram os aperitivos, foi servido "um jantar de honra para os dirigentes vimaranenses bem confeccionado." Aí, o presidente do Sparta pediria a palavra para lisonjear os vitorianos ao dizer que "não espera ter um adversário tão importante na primeira eliminatória da Taça UEFA." Mas, acima de tudo, era importante que os dois clubes "fortaleçam a amizade que deve ser apanágio de todos os homens do mundo." Por fim, como prova do gentleman que queria demonstrar ser desejou "aos dirigentes do Vitória que se sentissem como em sua sua casa, propondo um brinde ao nosso clube."
Pimenta haveria de lhe responder dizendo. verdade, que passava pelo facto do "palmarés do Vitória é bastante mais humilde que o do Sparta", ainda que sorrindo afirmasse que esperava ganhar a eliminatória. Acabaria por dizer "é por isso que eu gosto tanto de futebol", atendendo à faculdade deste em unir os povos.
Com um clima tão amistoso, as comitivas trocaram presentes. Deste modo, "o presidente do Sparta de Praga entregou ao Dr. Pimenta Machado um belo e valioso conjunto de peças em porcelana e para o clube uma taça em prata encimada num suporte em mármore que marca a 1ª mão desta eliminatória e também um galhardete bem confeccionado que alude ao dia 17 de Setembro, no qual estão inscritos os emblemas dos dois clubes. Por seu turno, o Presidente do Vitória correspondeu com a entrega dum conjunto de esferográficas com o monograma do Vitória, medalhas e galhardetes."
Por fim, viria o derradeiro toque de classe. O presidente do Sparta colocaria uma viatura com motorista à disposição de Pimenta Machado para as suas deslocações, num claro sinal que a hospitalidade e o cavalheirismo marcavam pontos. No terreno seria outra história, mas até aí o Vitória haveria de sorrir...