COMO O SONHO DO CAMPEONATO NACIONAL MORREU EM AMBIENTES HOSTIS...

O Vitória naquele início da segunda metade da década de 50 do século passado assumira-se como a força dominante do hóquei patins minhoto.

Uma equipa tão forte que ousou sonhar em participar no Campeonato de Portugal de 1956, sendo que, para isso suceder, era imperioso passar duas eliminatórias.

A primeira delas frente ao Vilanovense / H.C. Carvalhos, em que o Vitória venceu a primeira mão no Rink da Amorosa por 8 a 5, para perder em Vila Nova de Gaia por 4-1, o que obrigou a um jogo de desempate. Antes de o referirmos, citemos um dos elementos da equipa, Manuel Magalhães, nos seus Ficheiros Desportivos: "Ficamos rodeados de assistentes e todos os componentes foram agredidos mesmo "nas barbas" da GNR!... Reacção geral e imediata - Não jogamos!" Haveriam de jogar para sofrerem a referida derrota, num ambiente absolutamente terrível. Citemos o mencionado autor que fazia parte da equipa: "Eu e o meu colega Ribeiro, como suplentes, ficámos no banco, como quem diz. Sentados no primeiro degrau da bancada, misturados com o público, e, como sempre, à mercê das suas provocações. Foi o que aconteceu. Ribeiro incita o jogador Lino, dando-lhe ânimo... foi o bastante. Olho para o lado e já ele estava envolvido com a assistências. Daí para diante, e sob a ameaça de novas agressões, vimo-nos forçados a ficar mudos e quedos."

Como referimos, fruto dos resultados era necessário existir um jogo de desempate. Como escreveu o Comércio do Porto de 03 de Outubro de 1956, "no final foi feito o sorteio, após larga discussão, tendo sido indicado o rinque de Guimarães, onde esta noite se realiza novo jogo, para apurar o vencedor.” Seria o Vitória, de modo claro, com uma goleada por 10 a 2, o que lhe permitia passar à eliminatória seguinte onde iria encontrar a Académica de Espinho, sendo certo que quem vencesse integraria a fase final do Campeonato Nacional a disputar no Rinque do Campo do Lima, no Porto, com Infante de Sagres, Paço de Arcos, Benfica, Campo de Ourique, Vigorosa e Cascais.

Assim, na primeira mão da eliminatória decisiva, os Conquistadores, na Amorosa, venceriam por dois a um. Um "resultado escasso, mas que nos dava certas esperanças de eliminar o adversário em sua casa."

Porém, tudo correria de modo indesejado para os hoquistas vitorianos. "Logo à chegada começaram as intimidações: Cunha Gonçalves, nosso treinador-jogador e ex-jogador da Académica de Espinho foi agredido por um atleta adversário. Pelos vistos ele era pessoa não grata em Espinho." Por isso "estava montada a máquina - era proibido vencer." Além disso, "as tabelas, por trás da baliza, eram juntas às paredes do balneário. A confusão era total e como suplente nem de lá consegui sair. Com tanta aglomeração de pessoas, fiquei entupido à porta."

O Vitória não conseguiria lidar com o terrível ambiente com que se deparou, perdendo por 12-3, num pavilhão em que o conjunto espinhense contou com o apoio de adeptos da Sanjoanense e dos Carvalhos que, anteriormente, tinham caído aos pés dos hoquistas vitorianos, tal como escreveu o Notícias de Guimarães de 14 de Outubro de 1956.

O sonho morria, mas, por estes dias, o Vitória dava a entender poder tornar-se numa potência nacional de uma das mais amadas modalidades dos portugueses. Contudo, tal haveria de não se confirmar... mas, isso será outra história!

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