COMO ANTÓNIO MENDES SE ESTREOU PELA SELECÇÃO PORTUGUESA, TORNANDO-SE NO PRIMEIRO JOGADOR VITORIANO INTERNACIONAL A PORTUGUÊS!

No momento em que todos os vitorianos se regozijam com a merecida chamada de Jota Silva à selecção nacional portuguesa, será bom lembrar o primeiro homem a vestir a camisola da equipa principal das Quinas enquanto jogador da equipa de Todos Nós.

Falamos de António Mendes, avançado que chegou proveniente do Benfica na temporada de 1962/63, no pacote do negócio que envolveu as transacções de Augusto Silva e de Pedras para o emblema lisboeta. O avançado pegou, de imediato, de estaca nos Conquistadores, sendo durante nove temporadas uma verdadeira referência na linha dianteira do clube.

Conhecido pelo Pé Canhão, atento a potência do seu demolidor pontapé, mereceu em 1966 a atenção de Otto Glória para a selecção que se iria estrear em lides mundialistas na prova a disputar em Inglaterra. Mendes, na verdade, integrou a lista dos 40 pré-seleccionados Magriços, mas haveria de ficar de fora da convocatória final, de nada valendo os 19 golos apontados nesse ano e que, em muito ajudaram, o Vitória, orientado por Jean Luciano, a qualificar-se no quarto posto da tabela.

Contudo, não teria de esperar muito para entrar na centenária história do clube. Logo após o extraordinário terceiro lugar conseguido pela equipa onde pontificava Eusébio, Mendes mereceria a honra de uma convocação para a equipa das Quinas.

Uma convocação que mereceria honras de estreia a 13 de Novembro de 1966, na partida disputada frente à Suécia, no Estádio do Jamor, a contar para a jornada inaugural da fase de qualificação para o Campeonato Europeu de 1968, que se disputou em Itália. Assim, na ressaca daquele inesquecível Verão, em que só Charlton vergou a equipa de Eusébio e companhia, Portugal entrou em campo com José Pereira (Belenenses); Jacinto (Benfica), Morais (Sporting), Alexandre Baptista (Sporting), Hilário (Sporting); Coluna (Benfica), Jaime Graça (Benfica); José Augusto (Benfica), Eusébio (Benfica), Oliveira Duarte (Sporting) e Mendes (Vitória). Atente-se na constituição da equipa com cinco jogadores do Benfica, quatro do Sporting, um do Belenenses...e um de uma equipa fora de Lisboa, que foi o goleador vitoriano.

Contudo, tudo correria mal à selecção nacional. Contrariamente ao que houvera feito no Verão anterior, foi capaz de arrancar a admiração do público que pretendia vitoriar os seus heróis. Assim, ainda que, como escreveu o Notícias de Guimarães de 20 de Novembro de 1966, "a hora era, manifestamente, eufórica, capaz de chegar ao Estádio do Jamor assistência numerosíssima, capaz de enchê-lo a transbordar. (...) O argumento básico para a reclamada euforia, todos o sabem, era o êxito rutilante da Inglaterra, que uns tantos magriços consumaram num momento de rara felicidade e que, verdade se diga, custou aos cofres federativos uma conta calada, pois, até agora, somente foram divulgados os gastos em prémios...", a verdade é que a "anunciada perspectiva gorou-se rotundamente. Na verdade, "nem numeroso público, nem confirmação de capacidade futebolística, pois uma decrepitude de valia imperou em equipa sem chama, sem fundo técnico-táctico, desconexa por demais. Quem lá esteve vaiou-a, divorciou-se de um apoio que sempre merece a equipa de todos nós e quem viu o jogo pela TV, também decepcionado, ficou bocejando perante o aparelho luminoso, na conclusão de que perdeu o seu tempo."

Uma desilusão profunda consumada numa derrota por duas bolas a uma, de pouco valendo o golo inaugural de Jaime Graça, que, para os vitorianos, só foi atenuada pela estreia de Mendes que, segundo a mesma publicação, "o seu lugar na equipa não resultou de imponderáveis, foi, acima de mais, a consequência duma capacidade que tem e que patenteou através de exibições que chamaram a devida atenção de quem devia estar atento a elas. Possivelmente, como aconteceu com António Mendes, outros jogadores vitorianos e doutras equipas, tinham, ao momento, lugares na Selecção Nacional, se em vez de atender -se a nomes aureolados pelo feito dos magriços, se tivessem escolhido aqueles que se encontravam, neste instante em melhor forma."

Apesar da derrota, ficava a garantia que "fique o popular Nené, o pé de canhão vitoriano, com a certeza de que os adeptos do seu Clube, tanto aqueles que foram ao Jamor ou os muito mais que o observaram através do vídeo, que não desiludiu a confiança nele depositada, de que fora justa a sua escolha."

Apesar da desilusão da derrota, António Mendes, que na publicação era carinhosamente tratado por Nené, entrava para sempre na história dos Conquistadores, ainda que este tenha sido o único jogo em que vestiu a camisola da equipa do país.

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