COMO, NAQUELE ANO DE 1926, O VITÓRIA, PELA PRIMEIRA VEZ, SE REVOLTOU CONTRA A AF BRAGA POR ESTA TER LEVADO A CABO UM ESTRATAGEMA PARA PROTEGER O ETERNO RIVAL...

A relação entre o Vitória e a AF Braga foi várias vezes conturbada e polémica. Com efeito, já aqui mencionamos a pugna de Pimenta Machado nos anos 90 do século passado para alterar os poderes instalados, ou, ainda, as diversas guerras nos anos 30 em que o Vitória alegava que os poderes distritais protegiam o clube bracarense.

Porém, a primeira guerra entre clube vitoriano e a AF Braga decorreu um pouco antes, em 1926, tendo tido o seu primeiro episódio fez, ontem, 03 de Janeiro, 97 anos.

Na verdade, nesse dia, nas Caldas das Taipas, disputou-se um desafio no escalão de infantis entre os rivais de sempre e para sempre, em que segundo o Ecos de Guimarães de 09 de Janeiro de 1926, o rival apresentou-se "para dar combate ao Infantil do Vitória, não o Infantil do Sporting, mas uma mistura de infantis e de marmanjos que de infantis só possuíam o nome".

Fruto disso, a equipa rival haveria de vencer por uma bola a zero, o que fazia com que "deve-se dizer bem alto, para que chegue aos ouvidos dos senhores directores da Associação de Braga, que costumam ser tam rigorosos em coisas de pouca monta, mas que são cegos e surdos quando se trata de defender a justiça dos humildes contra o potentado Sporting."

Aliás, o cronista considerava que o SC Braga tivesse levado a equipa que pouco tempo antes jogara em Guimarães, "seria indiscutivelmente derrotado. E que assim é, prova o facto de o Sporting ter lançado mão de elementos de categoria superior."

Perante o sucedido, e com as suas gentes profundamente indignadas, reagiu o Vitória "apresentando um protesto, alegando que tinham jogado contra o Infantil do seu Club, elementos que jogaram na 2ª Categoria e em campo contra o Estrela Sport Club de Braga".

Por isso, "é justo que a Associação atenda esse protesto, não anulando simplesmente e comodamente esse desafio, mas dando o como ganho ao grupo de Guimarães, pois que assim o mandam os Estatutos e Regulamentos da Associação".

Contudo, a Associação de futebol passado um mês ainda não tinha respondido à indignação vitoriana que levou o clube Conquistador a enviar nova reclamação, desta vez, mais enérgica. "Esta responde a 15 de Fevereiro declarando que a reclamação do Vitória não podia ser levada em consideração por não se ter feito acompanhar da taxa regulamentar".

Ou seja, "para a Associação nada representa a justiça, a moralidade, a razão das reclamações; para ela só valem, só representam, só marcam os míseros escudos. Ali, donde a moralidade e a justiça há muitos que tiveram de fugir, em trajes menores, vítimas, coitadinhas..." Pior, ainda, o facto de "se dentro da Associação houvesse lealdade, houvesse imparcialidade, quando alguém do Vitória entregou pessoalmente a reclamação a um membro dessa Associação, o dever desse membro era fazer lembrar aos do Vitória que faltava cumprir uma formalidade: a taxa regulamentar. Mas não: toda a gente conhece a imparcialidade da Associação quando se trata do inseparável Sporting."

Concluía-se por isso que "Roubado o Vitória? Sim, infamemente roubado; mas com as mãos limpas, a cara bem levantada e de espinha dorsal bem direita para apregoar esse roubo e para arrancar a máscara a meia dúzia de seráficos membros duma Associação que, para honra do desporto distrital, devia estar há muito sepultada num monturo, seu natural e lógico destino". E assim (não) se fazia justiça...


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