Machado terá sido um dos grandes guarda-redes da história vitoriana. Depois do pioneiro e lendário Ricoca e antes dos guarda-redes da modernidade vitoriana, o pai de Manuel Machado, que também teve um relevante papel no clube até há poucos anos, terá sido um dos nomes mais marcantes da história vitoriana.
Tudo começou, segundo o próprio, em entrevista à revista Stadium, em 1936, quando "jogava eu então no Cruz de Pedra F.C., cujo parque de jogos era na minha rua, quando um emissário de Alberto Augusto, que era ao tempo o treinador do Vitória, me perguntou se eu queria ir lá treinar."
Assim iria, pois, "disse, imediatamente, que sim! Era a possibilidade que se me deparava, de deixar a trapeira por uma bola a sério. Fui. Alberto Augusto perguntou-me qual era o meu lugar preferido, e eu, que nas brincadeiras de miúdos sempre jogava a guarda-redes, disse-lhe desejar todos menos o de guardião... tinha a impressão que nunca poderia ver a ter futuro nesse posto; por isso, queria tentar outro. Mas, o meu treinador é que não concordou comigo. (...) Até que Alberto Augusto me disse que ia fazer de mim guarda-redes."
Faria, assim, um dos mais reputados guardiões nacionais, especialista na defesa de grandes penalidades, chegando mesmo a defender dois castigos máximos numa partida perante o FC Porto, no recinto da equipa portista.
Além disso, um guardião que terá estado com um pé no Benfica, pois, como o próprio contou, "tinha vindo para Lisboa, a cumprir o serviço militar, e Alberto Augusto procurou que eu treinasse no Benfica, só para manter a forma. Assim se fez. E das minhas idas ao Campo Grande nasceu a sondagem. Recusei, porém. Pouco tempo depois arranjei uma transferência para Viana de Castelo, onde acabei a tropa e voltei ao meu Vitória."
Num percurso digno de registo existiu um único lamento, que foi o de nunca ter sido internacional, apesar de achar que "não tenho classe para poder envergar a camisola das cinco quinas. Ainda assim, "estou plenamente convencido de que ela não basta, no nosso país, para se chegar à internacionalização. É preciso, pelo menos, ser-se dum clube lisboeta ou, ainda, que nem sempre, do Porto. A Província não conta." Concluiria, dizendo que "a internacionalização é uma aspiração legítima de todos os desportistas, mas que está vedada aos futebolistas da província." Em tantos anos, pouco ou nada mudou, dizemos nós...