COMO DANIEL E COMPANHEIROS SENTIRAM O TERROR NUM JOGO DE JUNIORES EM BRAGA...

Estávamos na temporada de 1953/54...

A equipa de juniores vitoriana em Março de 1954 deslocou-se a Braga para disputar mais um desafio frente ao eterno rival a contar para o denominado Torneio Regional.

Porém, este derby seria bem mais escaldante do que todos os outros, a ponto de o Notícias de Guimarães escrever que "há muitos anos que não assistíamos a cenas desta natureza e principalmente agora, depois do exemplo edificante dado pelos vimaranenses quando o estádio 28 de Maio esteve interdito." Por isso, "nada fazia prever que novamente se pudessem consumar incidentes iguais àqueles que presenciamos no velho Campo da Ponte."

A verdade é que o ambiente de terror e de intimidação para com os jovens jogadores vitorianos foi encetado desde o início da partida. Com efeito, "logo no início do jogo, o público incitou os jogadores locais à agressão, de um modo especial contra o jovem interior vimaranense Daniel, que assim foi vítima de toda a espécie de truques." Recorde-se que o homem que haveria de entrar na mitologia vitoriana era natural de Ponte da Barca e que tinha sido cortejado pelos rivais do Minho antes de se comprometer com o Vitória...para a vida!

Mas além deste, "o guarda-redes Vieira veio em braços para fora do terreno, tendo de ser substituído, vítima também de um pontapé que o inutilizou não sabemos para quanto tempo." Acresce ainda que "todos os restantes jogadores apresentaram mazelas sofridas ante a impassibilidade de um árbitro sem capacidade para dirigir encontros desta natureza..."

Com um cenário assim, os jovens Conquistadores foram verdadeiros heróis. Não temeram os insultos, as ameaças, as afrontas e conseguiram empatar a partida a um. Como "prémio, no final da partida, "quando a equipa vimaranense se dirigia para as cabines que ficam dentro do Estádio e, portanto longe, novamente sofreu maus-tratos em que, emparceirando com os jogadores, o público local colaborou."

Na semana seguinte, o mesmo jornal haveria de retirar as conclusões do sucedido, escrevendo que "estávamos longe de atribuir aos acontecimentos que se registaram em Braga (...) a gravidade de que infelizmente se revestiram. (...) Pelo que nos foi dado a ler, díscolos e energúmenos deram largas a instintos verdadeiramente selváticos, ao ponto de alguns jogadores vimaranenses ficarem seriamente contundidos. A razão? Parece que a superioridade técnica dos nossos representantes."

A indignação, ainda era maior, pelo facto de pouco tempo antes, o Vitória ter cedido a Amorosa ao rival por este ter o campo interditado, tendo-o recebido com todo o apoio. Por isso, considerava-se ter sido uma "linda maneira de retribuir um gesto cavalheiresco e de franca solidariedade. Parece que há uma sanha feroz contra as gentes deste lado..."

Postagem Anterior Próxima Postagem