AQUELE JOGO EM SANTO TIRSO, EM QUE MAIS QUE A GOLEADA SOFRIDA FRENTE AO BOAVISTA, FICOU NA MEMÓRIA O APEDREJAMENTO DE VIZELA...

Estávamos em 1933...

O Vitória dava os primeiros passos, procurando a sua afirmação em diversos jogos que ia efectuando, bem como na participação no Campeonato Distrital que haveria de vencer, pela primeira vez, no ano seguinte.

Assim, na antecâmara desse Distrital, deslocaram-se os Conquistadores ao Campo das Fontainhas, em Negrelos, para enfrentar o Boavista, na disputa da Taça Laura Fernandes Pinto. Apesar de apoiados por mais de mil adeptos que viajaram de comboio até ao recinto, a verdade é que o jogo em si foi uma desilusão, com os vitorianos a serem derrotados por oito bolas a duas. Porém, a contribuir para o malogro, segundo o Notícias de Guimarães de 05 de Novembro de 1933, esteve "o grande árbitro portuense, Eloy Silva, que não correspondeu aos dotes do juiz competente que incontestavelmente reúne, prejudicando seriamente o grupo vimaranense com um parcialismo descarado."

Por isso, segundo a publicação mencionada, "ele foi, quanto a nós, o único responsável pelo que se passou de vergonhoso e de indecoroso entre os jogadores dos dois grupos." E o que se passou de aterrador entre os atletas de duas equipas? Regressemos ao vetusto jornal de 1933: "Iniciada a segunda metade do desafio, é ainda o Boavista que consegue novo ponto a poucos minutos do jogo. E quando tudo fazia prever que o encontro completaria o tempo regulamentar sempre dentro da mesma ordem e correcção, que se vinha notando desde o primeiro minuto, eis que após a carga dum jogador vimaranense a um jogador do Boavista, rapidamente punida pelo árbitro, surge um conflito deveras indecoroso e desprestigioso para o desporto. O jogador do Boavista agride o componente do Vitória, este riposta e daí resultou ser transformado o rectângulo de jogo em verdadeiro ring de Box. Pôs termo a este lamentável incidente a intervenção de directores dos dois Clubs, muito tendo contribuído que os excessos ficassem por ali, a Guarda Republicana ter evitado que o publico entrasse em campo."

Estes factos levaram à desorientação da equipa vimaranense que sofreria mais golos, um deles suscitado, após a equipa ter parado, a pensar que o árbitro iria apontar uma falta a favor dos boavisteiros. "Como o defesa do Vitória protestasse em termos inconvenientes, o árbitro convidou-o a sair do terreno de jogo, acompanhado de mais componentes da sua equipe."

Mas, se o jogo tinha corrido mal, os adeptos ainda haveriam de ter de passar por outra provação. Assim "quando regressavam de Negrelos (...) algumas, muitas centenas de vimaranenses, foi o comboio em que viajavam apedrejado, durante a sua paragem na estação de Vizela, por umas dúzias de energúmenos que ao mesmo tempo vaiavam e insultavam com inenarráveis obscenidades aqueles que estavam a ser vítimas da sua brutíssima e estupidíssima ferocidade."

Concluiria o cronista Zé dos Anzóis, no dito jornal: "Foi o Diabo! Foi dia em que tudo e todos perderam!

O Vitória perdeu o encontro - e por uma boa cabazada de bolas-; vários populares perderam da cabeça o couro cabeludo arrancado por pedradas arremessadas por mãos peritas de mestres-atiradores; o Sr. Rocha, simpático e estimado comerciante da nossa praça, pessoa sensata, comedida, integralmente burguesa, incapaz de se meter com quem quer que seja, perdeu três dentes, precisamente na altura da vida em que os dentes já começam a fazer falta; os viajantes perderam, quasi todos, pelo menos, o apetite.."

Um dia em que todos saíram derrotados...

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