" - O Vitória tem um vínculo desportivo sobre o Fernando Meira. Portanto, o Fernando Meira tem o vínculo desportivo e estando ligado ao Vitória, ele não pode representar o Benfica independentemente de ser um jogo particular ou não. Esse é o nosso entendimento. Portanto, é uma situação preocupante mas que, realmente, o jogador marimba-se para tudo isto. Uma excepção de desconfiança para com o clube, aliás mais uma, na esteira do que vem sendo habitual e daí não podemos fazer nada. Temos é de agir em conformidade dentro dos mecanismos elementares que temos. Agora é realmente actuar junto da Comissão Disciplinar para o Benfica e o Fernando Meira serem castigados, para além das acções laborais contra o atleta. É que a questão do Fernando Meira não fica pela decisão da Comissão Paritári. Ness Comissão nós ganhámos, mas aí só foi decidido a questão do vínculo desportivo (...) O Fernando Meira persiste em continuar num clube que não pagando, não o pode utilizar, nem inscrever e persiste em correr riscos, ou seja a treinar, em jogar, pondo em causa os interesses do Vitória."
Pimenta Machado a falar ao jornal do clube a 01 de Agosto de 2000.
O jovem capitão vitoriano tinha rescindido unilateralmente o seu contrato com o Vitória, naquele momento em que a temporada de 1999/2000 "entrou em parafuso", com Quinito e Pimenta Machado de "candeias às avessas" e com a equipa profissional de futebol a "apanhar com os estilhaços."
O capitão, cobiçado por meio-mundo, depois do treinador o ter feito passar de um bom médio centro num excepcional líbero, por isso, resolveu bater com a porta, já depois de Pimenta ter pretendido renovar o seu vínculo ate 2006 e ter prometido só vendê-lo após os sócios tomarem uma deliberação com esse fim numa assembleia-geral convocada para o efeito, numa óbvia manifestação de populismo que faria com que fosse um dos poucos jogadores a ter o seu futuro decidido pelos sócios.
A partir daí, seriam meses de confusão e de incerteza. Assinaria, em simultâneo, por dois clubes italianos, Udinese e Vicenza, o que fez com que corresse efectivos riscos que não pudesse actuar por nenhum clube até ao final do seu contrato com o Vitória em 2006... o que arruinaria a sua carreira, bastando lembrar que esse foi o ano em que, como titular da selecção portuguesa, ajudou equipa treinada por Scolari a conquistar o quarto posto no Mundial da Alemanha.
O problema acabaria por se resolver, graças ao Benfica de Vale e Azevedo. Assim, no defeso da temporada de 1999/2000, no escritório de advocacia do, então, presidente do Benfica, as partes chegaram a acordo. Meira seria jogador dos encarnados, a troco de 800 mil contos (4 milhões de euros) e dos direitos desportivos de Hugo Cunha, um jovem que houvera brilhado no Barreirense mas nunca se afirmara no clube lisboeta.
Porém, a novela não acabou aqui, com o Benfica a utilizar de vários malabarismos para não pagar o jogador, como Pimenta referiu na entrevista já citada, ao dizer que "o Benfica (..) depois de ver goradas as várias tentativas para me enganar, resolveu divulgar um comunicado a cortar relações, que nada tinham a pagar ao Vitória, que o jogador não era do clube e que nada deviam ao Vitória. Isto é uma palhaçada. Uma palhaçada total."
Com a primeira prestação acordada no valor de 500 mil contos (2,5 milhões de euros), sugeriu o Vitória que Meira regressasse a Guimarães, ou então que ficasse sem jogar até ao final do seu contrato, uma vez que a Comissão Paritária da Liga dera razão ao Vitória quanto à falta de fundamento da rescisão contratual, por inexistir qualquer motivo justificativo para tal.
Sem grandes soluções para se imiscuir ao pagamento, Vale e Azevedo aceitaria pagar o jogador, algo que viria futuramente a desencadear outra polémica. Na verdade, as comissões referentes ao pagamento do jogador foram alvo de investigação do Ministério Público, acabando os dois presidentes por serem julgados por isso.
Pimenta acabaria na sua contestação por assumir que nunca tinha existido a comissão de 90 mil contos que dissera receber, tendo realizado o negócio sem qualquer intermediação. A justificar a prática de tal acto, esteve a necessidade de cobrar uma dívida de dinheiro que emprestara ao clube para a aquisição dos jogadores Preto, Evando e Rúben. Na verdade, para comprar os três jogadores brasileiros, contraiu um empréstimo no Banco Espírito Santo da Suiça de 514 mil euros. E ao receber 540 mil, os tais 90 mil contos, ficou a perder 12 mil e 580 euros.
Uma polémica que percorreu grande parte do ano 2000...