A TRÁGICA HISTÓRIA DOS SILVAS... ANTES DA EQUIPA DE 22/23!

 

Na temporada de 22/23, com um dose de bom humor à mistura, dizia-se que o Vitória era uma equipa de "Silvas": Manu... Silva, Dani... Silva, Tiago... Silva, Jota... Silva, André... Silva, Anderson... Silva! E nas bancadas, o ressoar do, talvez, mais popular dos nomes de família portugueses ressoasse quase como um repetitivo refrão.

Porém, muito antes destes, dois Silvas, tio e sobrinho, terão entrado na história do Vitória... até pelo facto de, provavelmente, ter sido a primeira e a última vez que dois jogadores com este grau de parentesco entraram em campo de rei ao peito!

Comecemos pelo tio... António da Conceição Silva era natural de Barcelos. Guarda-redes, chegou ao Vitória na temporada de 1949/50, proveniente do Gil Vicente, dando os primeiros passos nos Conquistadores, na equipa comandada por Janos Biri. Construiria aqui a sua vida, ganhando amigos e sendo capaz, inclusivamente, de chamar o seu sobrinho, Augusto, para junto de si.

Tal como o seu tio, apaixonado pelo futebol, veio para a Cidade-Berço para aprender uma profissão, a de serralheiro, mas, simultaneamente, ingressou nos escalões jovens vitorianos, até chegar à sua equipa sénior. Nela, afirmou-se como interior direito, para a 02 de Março de 1958, os heróis desta história viverem momento marcante: entraram juntos em campo, com a camisola do Vitória, comandado pelo treinador Fernando Vaz, para enfrentarem o Tirsense. O Vitória dava passos seguros para a primeira divisão, e tio e sobrinho eram pedras a ter em conta nesta progressão.

Augusto, esse, começava a dar nas vistas. Pese embora, as lesões, a qualidade que colocava no meio campo vitoriano, faziam dele, conjuntamente com Pedras, as coqueluches de uma equipa que fez história. Porém, nesse inesquecível naco de história vitoriana, o papel do seu tio não poderá ser esquecido. Na verdade, naquela que foi a sua última temporada, ocupou por muitas vezes as redes da equipa, em alternância com Dionísio, sendo, por isso, também determinante nesse feito. Retirar-se-ia em seguida.

O sobrinho, esse, cada vez, dava mais nas vistas. Pese embora a temporada seguinte não ter tido o mesmo êxito que a anterior, com Quaresma a ser substituído no comando técnico do Vitória pelo antigo jogador Rola, a verdade é que o grande herói desta foi mesmo Augusto. Na verdade, o seu golo decisivo na derradeira partida contra o FC Porto, que também precisava de vencer para ser campeão nacional, garantiu uma sofrida manutenção ao Vitória. Era um herói, cobiçado pelos clubes mais fortes do futebol português.

Seria o Benfica a conquistá-lo, em troca de um ordenado acima da média, a quantia de 400 contos de prémio de assinatura, o equivalente hoje a cerca de 190 mil euros. O Vitória, esse, recebeu pelos seus direitos 700 contos, e ainda, a cedência de Manuel Pinto e Teodoro a título definitivo e Zeca Santos e Testas a título de empréstimo.

O conto de fadas, contudo, acabaria+ muito depressa.

Silva, já depois de retirado, seria acometido de uma misteriosa doença que deixá-lo-ia sem poder trabalhar. O Vitória, ainda, organizou um torneio de solidariedade para o apoiar, em 1964, em que também participaram o Varzim e o SC Braga, tendo o mesmo rendido 70 contos.

No final da prova diria: "- Estou muito grato a quantos colaboraram na minha festa, de uma maneira ou de outra. Graças a Deus, o Sol não faltou."

Silva acabaria por falecer em 1966, ficando na recordação de muitos amigos que tinha deixado na cidade, sendo homenageado, após a sua morte, num desafio da Taça de Portugal, frente ao Portimonense.

O seu sobrinho, Augusto, aos poucos, foi-se afirmando nos encarnados, até ser peça preponderante na temporada de 1965/66.

O pior veio na época depois. Após ter começado a época, seguiu-se a digressão ao Chile. Aí, como escreveu o jornal A Bola, a noticiar o funesto acontecimento, "acordou morto para o futebol". Vítima de um AVC, deram com ele no chão do quarto banho. Regressaria a Lisboa, com uma paralisia parcial do corpo e perdido para o futebol. Passado um ano da morte do seu tio, o sonho que lhe permitira ganhar fortuna e conhecer o mundo, desvanecia-se...

Mais infeliz não poderia ter sido...

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